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Nesta página electrónica, encontrará poemas e textos de prosa (embora estes últimos em minoria) que visarão várias temáticas: o amor, a natureza, personalidades históricas, o estado social e político do país, a nostalgia, a tristeza, a ilusão, o bom humor...

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Poema nº 184 - Passagem Misteriosa


Passagem Misteriosa
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)

Nada sei sobre a nossa passagem misteriosa
Por este estranho mundo,
Sei que sou mais um caminhante
Que por aí deambula 
À procura de uma verdade ou teorema
Que confira lógica à existência!
E neste adensar de reflexões,
Quando olho à noite para o céu
Observo todo um agrupamento de estrelas,
Esses diamantes do Universo
Que nos são inalcançáveis
E que cintilam diante da escuridão,
E para mim postulo com convicção:
Que privilégio único do nosso viver:
Visionar as pinturas em aguarela do nosso Firmamento,
Ser parte integrante dos seus infindáveis mistérios
Sem que saibamos o que nos está reservado! 
Entretanto, e no silêncio do meu olhar,
Descortino por algures na minha agenda 
Uma rubaiata exemplar de Omar Khayyam
Que nos insta a cultivar a rosa do amor
Nos nossos piedosos corações, 
De modo a que a nossa curta vida não seja em vão!
Direi inclusive mais:
Se enchermos a terra de afectos e ternura,
Então nos tornaremos também estrelas desse Universo
Porque a nossa luz perdurará nos tempos vindouros,
Mesmo após a nossa partida,
E contaminará todos os outros 
No caminho do amor e da paz.




Poema nº 183 - Ovar, dizem-me que és...


Ovar, dizem-me que és...
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)

Ovar,
Dizem-me que és... 
Berço-mãe das formosas varinas,
Pintora de azulejos coloridos,
Arquitecta de rústicos palheiros,
Produtora de um insigne pão de ló,
E ainda figurante de proa em cada cortejo carnavalesco!
Tudo em ti, Ovar, são devaneios artísticos,
Ventos de emoções 
Expelidos pelo tridente do Deus Neptuno
Que assim populam pelas calçadas,
Convertendo as gentes à sua identidade.

Ovar,
Dizem-me que és... 
Pescadora e mestre da Arte Xávega,
Musa sedutora de um vasto areal,
Princesa de um castelo esquecido,
Fiel protectora das genuínas lavadeiras,
Fonte angelical que sacia a turba popular!
E se o silêncio dos teus antepassados 
Repousa no seio dessa tua paisagem discreta
Então o seu exemplo perdura pelos mortais,
Teus filhos, teus príncipes,
Teus infatigáveis guerreiros
Que farão renascer a tua mística a cada alvorada.




Foto da autoria de José Pinto (Olhares - Sapo)

Poema nº 182 - O Cativeiro do Nada



O Cativeiro do Nada
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)

Que será de mim
Quando for parte do nada?
E como será inglório esse nada
Quando outrora já fui vida?
Que amei e deixei de amar,
Que sonhei e deixei de sonhar,
Que criei e deixei de criar!
Como é que o principal capítulo,
O da existência,
Se resume apenas a três quartos de século,
Quando a realidade física é eterna?
Como é imparável esse nada
Que nos arrasta para o seu vazio
Que nos vulgariza aos olhos do Universo
Que transforma tudo o que fomos
Numa história sem conteúdo,
Numa palavra sem significado,
Num arquivo sem documentos!
É esse nada que nos espera,
Que nos aprisionou antes do advento da existência
E que não poupará ninguém à sua saga!
Mas há algo que não me posso lamuriar,
É que tive o privilégio singular
De ter escapado, nem que por instantes,
Das profundezas desse poço da inexistência.
E se tal aconteceu,
Contra toda a lógica e filosofia,
Então devo-o a Deus 
Ou à Mãe Natureza!



Imagem retirada algures da Internet

Poema nº 181 - A tua fragrância



A tua fragrância
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


A tua fragrância é um enigma
Que faz reacender o meu coração
Rumo a um auspicioso paradigma
Onde será antagonizada a privação!

E quando te miro, adensa-se o mistério:
Esse odor advém afinal do teu interior
Do teu coração que é o maior império
Que silencia nos outros a tortuosa dor!

E bem sei que a pureza do teu espírito 
Não se equipara aos dos comuns mortais
Desconhecedores do teu enclave restrito!

Resta-me portanto perder-me na certeza
De que a tua vida é a junção de todas as rosas 
Que transformam a tua simplicidade em realeza!