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Nesta página electrónica, encontrará poemas e textos de prosa (embora estes últimos em minoria) que visarão várias temáticas: o amor, a natureza, personalidades históricas, o estado social e político do país, a nostalgia, a tristeza, a ilusão, o bom humor...

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Poema nº 187 - Marés da Vida


Marés da Vida
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)

Desencontros
E mais desencontros,
São aos milhares
Neste tabuleiro fugaz
Que é a vida humana.
Amizades que se perdem,
Amores que se apagam,
Sorrisos que se dissipam
Só porque o tempo foi impaciente,
E a ilusão, um sufoco permanente!
E essa ingratidão agregada ao destino
Torna-me refém do saudosismo,
Do passado que adorava redesenhar,
Tornando-o num arco-íris radiante
Capaz de transmitir sensações únicas
Encantos primaveris inolvidáveis!
Mas não há tempo para lamentos,
Porque o destino é imperador,
E nós, meros mortais,
Somos navegadores em alto mar,
Enfrentando as mais ousadas marés,
Para assim cumprir os desígnios vitais
Até ao derradeiro suspiro!





Poema nº 186 - Folhas Caídas


Folhas Caídas
(Poema da autoria de Laurentino Piçarra)

Naquela tarde de Novembro,
Uma turba de folhas caídas
Populava pelas ruelas e calçadas
Despidas de entusiasmo e alegria.
As árvores sacudidas pelo vento,
Não resistiam a perder a sua verdura,
A pujança de outros tempos!
Cada folha voava anarquicamente
Rumo ao desaparecimento repentino,
Àquilo que dizem ser o nada.
Uma a uma esfumavam-se no horizonte,
Sobrevoando diante de um sol tímido
Numa solidão lúgubre que antecipa a partida final!
E cada folha abraçava o seu destino
Para se perder no esquecimento universal!
A última que observei emergiu diante da neblina
De tal forma, que senti a sua despedida
A amargura que aparentava nutrir
Antes de ser engolida por um rio próximo!
Quem é que se lembrará daquela folha?
E da sua árvore-mãe?
Quem se recordará do seu galho de residência
Onde convivia com as suas irmãs e amantes?
Não terá sido ela feliz?
E assim, naquela tarde nostálgica de Outono,
Convenci-me de que nós também somos folhas caídas
Libertadas por um céu enigmático,
Motivadas por sentimentos de pertença,
Mas destinadas a abraçar sozinhas
Um fim inglório.




Imagem retirada do Google

Poema nº 185 - A Fúria Romântica do Deus Neptuno


A Fúria Romântica do Deus Neptuno 
(Poema da autoria de Laurentino Piçarra)


Neptuno,
Juro que nunca percebi a tua fúria,
Essa tua raiva que despoletas a cada Inverno,
Fazendo levantar as ondas do Furadouro,
Através do tridente que ostentas na mão!
Porque levas vários pescadores ao desespero?
Porque semeias a aflição em diversas famílias?
Porque não proteges tu a costa do concelho de Ovar?
Não serás tu o deus dos mares e das nereidas?
Não gostas da escultura que te dedicaram naquela cidade?
O que faz colapsar a tua sensatez?
Divaguei por entre estradas, ruelas e calçadas
Para encontrar uma resposta a estes dilemas,
Mas a chave do enigma se achava numa praia,
Num areal banhado pela ria de Aveiro,
Num lugar pacato a que chamam Praia do Areinho:
Ali residia a nova paixoneta do deus romano,
Uma musa que, a cada noite, emergia de entre o lodo da ria
Para depois se enrolar nua pelo areal
Liberando um olhar doce às estrelas do Universo!
De olhos verdes, ela era a perdição do Deus Neptuno,
Era o verbo que apoquentava o seu coração
Mas ela resistira às malogradas intenções de Neptuno
Que sofreria um tremendo desgosto amoroso,
Uma paixão não correspondida,
E por isso, desde então,
Este novo deus-poeta revoltado com tudo e todos,
Versa em alto mar ondas enormes de frustração!
Percebera finalmente após milénios de existência
Que o amor é mais importante do que o poder,
Podendo salvar o rumo de várias vidas
Ou enviá-las, em caso de ilusão, para um abismo sem fim!




Foto antiga do Chafariz Neptuno em Ovar 
Retirada do Jornal-Blogue "João Semana"