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Nesta página electrónica, encontrará poemas e textos de prosa (embora estes últimos em minoria) que visarão várias temáticas: o amor, a natureza, personalidades históricas, o estado social e político do país, a nostalgia, a tristeza, a ilusão, o bom humor...

domingo, 16 de junho de 2019

Poema nº 348 - A Ponte da Morte


A Ponte da Morte
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra) 


A noite foi tomada pelo fogo
O horizonte tornou-se numa clareira
Não era Vénus, Deusa do Amor,
Que esculpia labaredas sentimentais
Ou que lavrava mandamentos!
Não era nenhum sonho lírico,
Mas antes um pesadelo sem fim!
Uma chuva de fagulhas irrompeu
Pelo negrume, véu inesperado dos perigos,
Sentenciando vidas estupefactas
Em cinzas levadas pelo vento!
E da ponte de Pripyat
Todos miravam o acidente:
A usina que espirrava blocos de grafite,
O reactor nuclear castrado pelas chamas!
Parecia um filme de ficção científica
Para tantos olhos ingénuos
Que não mediram a proporção
Daquele mal inédito!
Desconheciam as pobres almas
Que o Anjo da Morte
Viria ao seu encontro
Para beijar cada uma
Lentamente
Com os seus lábios radioactivos,
Fazendo-as testemunhas,
Não apenas do acidente,
Mas também das suas mortes iminentes.
Hoje somos nós que observamos a noite
Repleta de estrelas,
Iludidos por falsos optimismos
Na direcção do abismo.
Em cada terra, há um Chernobyl
Um rio poluído
Uma floresta que ardeu
Uma paisagem que ensombreceu,
E não muito longe de nós
Uma ponte
Para a morte!







Nota adicional: Esta é a imagem da ponte da morte situada em Pripyat, situada relativamente perto da usina nuclear de Chernobyl, onde ocorreu um desastre nuclear a 26 de Abril de 1986. Todas as pessoas que observaram o incêndio a partir dessa ponte morreriam nos meses seguintes, absorvendo, sem conhecimento na altura, ondas de radioactividade muito intensas. Este poema foi redigido em memória delas, e para que o ser humano possa aprender a lição de conservar a natureza em qualquer canto do nosso planeta. 

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