A Ponte Transcendental e o Rio do Oblívio
(Quadras da autoria de Laurentino Piçarra)
Quando os meus olhos se encerrarem
Na sepultura do "descanso" derradeiro
Desejo que o meu espírito voe ligeiro
Percorrendo os céus que se elevarem!
Não sei se acharei a luz salvadora,
Ou se o frívolo barqueiro Caronte,
Ou se até a escuridão aterradora,
Mas creio no enigma da mítica ponte!
Será ela de pedra ou de madeira?
Estreita ou larga de passagem?
Terá no seu fim a luz verdadeira?
E que rio discreto a atravessa?
Nos meus sonhos, fui visitado por Morfeu
Que me aconselhou a recear o rio:
O rio do oblívio que afoga o "eu"
Num total esvaziar de recordações.
Ele mostrou-me esqueletos na sua margem
Daqueles que caíram da justiceira ponte
Por pertencerem à supérflua vilanagem
Vetada pelos deuses do horizonte!
Aquele rio aniquila o passado e o porvir,
Faz desaparecer a alma e o seu crer,
É o inferno que omite o verbo existir
Nas águas profundas e inimigas do saber!
Mas se Morfeu tudo isto me confidenciou
É porque a ponte tem uma meta fascinante,
Onde se condensa a glória arrebatante
Que um dia até o próprio ouro vulgarizou.
Vou tentar já atravessá-la em vida
Com gestos de ternura e solidariedade
Sarando nos outros qualquer ferida
E praticando a essência da fraternidade.
O segredo não reside só na meditação,
Mas sobretudo no mais puro altruísmo
Aquele que Jesus livremente ensinou
E que decerto nos privará do abismo.
A ponte só será "conquistada" pelo amor
Não pela ambição, pelo ódio ou ganância
Que para os Deuses é prova de ignorância
E que transforma o rio medonho em purificador!
Imagem retirada de: http://bored-bored.com/amazingly-dangerous-bridge