Conteúdos do Blog

Nesta página electrónica, encontrará poemas e textos de prosa (embora estes últimos em minoria) que visarão várias temáticas: o amor, a natureza, personalidades históricas, o estado social e político do país, a nostalgia, a tristeza, a ilusão, o bom humor...

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Nova presença no Programa "O Correr das Águas" (Rádio Clube da Feira)

No passado dia 19 de Junho, tive o prazer de voltar a estar presente no programa "O Correr das Águas" conduzido exemplarmente por Dinis Silva na Rádio Clube da Feira (104.7 FM; concelho - Santa Maria da Feira). Connosco esteve igualmente o poeta e músico Reinaldo Santos. O diálogo foi bastante construtivo, tendo sido abordadas diversas questões relacionadas com o meio-ambiente (debatemos em particular a situação da Barrinha de Esmoriz que finalmente poderá ser reabilitada em breve), com a música clássica e com o panorama geral da cultura em Portugal. Como é natural, desfrutamos ainda da oportunidade de recitarmos quatro poemas perante os ouvintes. No meu caso, recitei os sonetos "Saudoso Apeadeiro" (nº 159) , "Paixão Natural" (nº 151), "O Dilema do teu Moinho" (nº 155) e "O teu chão" (nº 136), todos eles da minha autoria e que podem ser aqui encontrados no blogue. 
Para nós, foi uma honra regressar àquele estúdio que tanto tem feito para divulgar o melhor da cultura nacional. Senti-me lisonjeado pelo convite endereçado pelo senhor Dinis Silva, e da minha parte, posso garantir que continuarei a partilhar, nesta página, novos versos. A poesia é para mim uma forma de estar na vida e de expressar tudo aquilo que sinto ou que me vem à memória.




Imagem nº 1 - Reinaldo Santos (à direita) e Laurentino Piçarra (à esquerda) deram um pouco do seu próprio contributo para a cultura portuguesa, no passado dia 19 de Junho.
Foto - Dinis Silva - Rádio Clube da Feira

terça-feira, 28 de junho de 2016

Poema nº 175 - Se Portugal fosse apenas uma pessoa


Se Portugal fosse apenas uma pessoa
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)

Se Portugal fosse apenas uma pessoa:
Teria a alma guerreira de D. Afonso Henriques,
Faria poesia trovadoresca como D. Dinis,
Amaria Inês de Castro com o coração de D. Pedro,
Partilharia da infindável crença de D. João I,
E seria, por fim, na conjugação das suas virtudes
Um valente marinheiro ao serviço de D. Manuel
E de todos os seus herdeiros!
As crónicas narram-nos a biografia desse Portugal
Um ser lendário de pequena estatura
Mas portador de uma energia surpreendente,
Que seguiria Vasco da Gama até à Índia,
A afamada terra das Especiarias,
Para depois juntamente com Pedro Álvares Cabral
Descortinar as belas indígenas do Brasil
Apreciadas então por Pero Vaz de Caminha!
Contaram-me também que Portugal já foi poliglota
Dominou o latim, o árabe e o galaico
Até recriar a sua própria língua
Tão reverenciada pelos seus camaradas de viagem
Que logo a semearam pelos gentios!
Do que depreendi a partir de outras fontes
Sei também que Portugal foi um valoroso combatente,
Com predisposição para a batalha,
Para o embate contra os inimigos,
E assim se aprontava a correr para os canhões,
Sem antes olhar para as velas do mastro
Que exibiam a Cruz de Cristo,
"Escudo" protector dos seus intentos!
Mas tal como o Infante Santo D. Fernando,
Portugal também está preparado para o martírio,
Para o sofrimento que a glória exige,
Porque o mérito não surge sem sacrifício!
Nessa sua caravela, Portugal revela argúcia:
O seu compartimento acha-se repleto de mapas
E numa mesa, a bússola do Infante D. Henrique
Torna-se o segredo desse eterno e mítico Portugal
Que não se perde no seu oceano de virtudes,
Que salvaguarda a imensidão do seu prestígio!
Depois de acender uma pequena vela,
O nosso biografado senta-se junto à mesa,
E com uma pena e um pergaminho,
Regista os feitos prodigiosos das suas viagens,
Através da inspiração conjunta do seu camarada
Ao qual dão o nome de Luís Vaz de Camões,
Um homem pobre que perderia o olho direito,
Mas cuja cultura ímpar o faria amigo
Do nosso destemido Portugal.
Oh! E assim nascia o sonho do Quinto Império
Tão badalado por um Fernando Pessoa!
Mas hoje bem sabemos que a realidade é outra,
E o passado não mata as agruras do presente,
Contudo, tenho de o afirmar veementemente
Para que a verdade perdure pelo universo:
Esse Portugal, esse nosso Portugal,
Vulto imaterial e omnipresente,
Cometa de feitos luminosos,
Foi tudo aquilo
Que todos os outros,
Mesmo atolados hoje em rios de dinheiro,
Jamais o serão!
E junto à Torre de Belém,
Onde redigi estes versos,
A todo o mundo perguntei
Sem obter até então resposta:
Quem de vós ousará colocar em causa
A inusitada coragem dos filhos de Portugal
Que deram o mundo a conhecer?


Poema escrito a 10 de Junho, Dia de Portugal e de Camões.




Foto retirada de: turmadivertida.blogs.sapo.pt

Poema nº 174 - Tempo Divino


Tempo Divino
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)

Não discutas com o tempo,
Não o aborreças com as tuas inquietações,
Não o tornes refém da futilidade
Ou das tuas tortuosas cismas pagãs.
O tempo é o maior tesouro
O maior privilégio que nos foi emprestado
Sem que tivéssemos feito nada para o merecer!
O tempo é a divindade suprema,
O inalcançável guardião do passado,
O único ancião vaticinador do futuro
Que tudo sabe, que tudo antecipa!
E esse tempo, que muitos julgam indiferente,
Sem princípios ou moldes de conduta,
É a mais alta fonte da inspiração humana,
É um deus desprovido de elegância
Que dispensa qualquer veneração,
E cujo seu único mandamento 
Incrustou numa rocha à beira-mar
Perfilada pelas virgens ondas do mar
Que logo transmitem aos búzios
A mais selvagem das verdades:
"Carpe Diem".





domingo, 19 de junho de 2016

Poema nº 173 - Braço de Rio



Braço de Rio
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Corre, corre para visitar o teu irmão,
Desfruta do dealbar de um novo dia,
Para desvaneceres a solitária crispação
Nessa tua busca pela sereia da alegria!

O teu irmão, o rio maior, também a quer,
Evocando a sua ascendência sagrada
E os domínios que tomou pela alvorada,
Agora oferecidos à almejada mulher!

E tu braço de rio, nada tens para o dote,
Apenas o conselho do Sol para que a olvides
Porque em ti jamais renascerá a sorte!

Mas não desistas do sonho, riacho pobre,
Porque é ele que alimenta o teu viver,
A tua paixão floreada pelos guarda-rios!




Foto retirada de: wallpapermanix.blogspot.com

Poema nº 172 - Pavões Lusitanos


Pavões Lusitanos 
(Soneto irregular da autoria de Laurentino Piçarra)


Na região onde vivo, há tantos pavões 
Que propalam uma recorrente vaidade,
Iludindo o povo com fúteis distracções
Enquanto vagueiam pela ociosidade.

As penas multicolores que patenteiam
São arcos-íris de cores apagadas
Atalhos vis que nos desnorteiam
Apostas em directrizes fracassadas.

Esses pavões também têm muitos olhos 
Não lhes faltará assim uma boa visão,
Visão essa que turvará a sabedoria popular.

Pelos vistos, adoram ser fotografados 
Aparecer nos jornais com total distinção
Com sorrisos e andamentos refinados.

E agora perguntam-me: onde estão eles?
Eu nunca vi nenhum, mas sei que existem.
Pelo menos, há-os em todas as povoações.




Direitos da Foto - Shemai.com

Poema nº 171 - As Amoras da Aguda



As Amoras da Aguda 
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Aguda é uma aldeia de imensos sabores 
Tem um bom peixe temperado pela maresia 
Que atrai todo um universo de provadores.
Rendidos aos tesouros da sua gastronomia!

Junto à casa da minha avó, havia um terreno 
Abandonado e envolto de densa vegetação 
Onde jaziam amoreiras num profundo silêncio 
Que namoravam lábios sedentos de tentação!

Cedendo aos desejos ingénuos de criança 
Lá me aventuraria sozinho nesse ritual 
Percorrendo os míticos trilhos e silvados.

Nesse santuário juvenil de doçaria selvagem 
Sobressaíam amoras vermelhas e pretas,
Cenário belo, hoje transformado em miragem!




Imagem retirada da Internet - Google Imagens



Nota-Extra: Existia um pequeno terreno abandonado nas proximidades da casa da minha avó que vivia na Aguda. No meio da sua vegetação, perduravam amoras que faziam a delícia dos mais novos. Hoje, o terreno encontra-se ocupado com uma construção urbana, fazendo com que as amoras não passem agora de uma miragem, de algo que fez parte de um passado inesquecível, de uma juventude que já não se repetirá.