Se Portugal fosse apenas uma pessoa
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)
Se Portugal fosse apenas uma pessoa:
Teria a alma guerreira de D. Afonso Henriques,
Faria poesia trovadoresca como D. Dinis,
Amaria Inês de Castro com o coração de D. Pedro,
Partilharia da infindável crença de D. João I,
E seria, por fim, na conjugação das suas virtudes
Um valente marinheiro ao serviço de D. Manuel
E de todos os seus herdeiros!
As crónicas narram-nos a biografia desse Portugal
Um ser lendário de pequena estatura
Mas portador de uma energia surpreendente,
Que seguiria Vasco da Gama até à Índia,
A afamada terra das Especiarias,
Para depois juntamente com Pedro Álvares Cabral
Descortinar as belas indígenas do Brasil
Apreciadas então por Pero Vaz de Caminha!
Contaram-me também que Portugal já foi poliglota
Dominou o latim, o árabe e o galaico
Até recriar a sua própria língua
Tão reverenciada pelos seus camaradas de viagem
Que logo a semearam pelos gentios!
Do que depreendi a partir de outras fontes
Sei também que Portugal foi um valoroso combatente,
Com predisposição para a batalha,
Para o embate contra os inimigos,
E assim se aprontava a correr para os canhões,
Sem antes olhar para as velas do mastro
Que exibiam a Cruz de Cristo,
"Escudo" protector dos seus intentos!
Mas tal como o Infante Santo D. Fernando,
Portugal também está preparado para o martírio,
Para o sofrimento que a glória exige,
Porque o mérito não surge sem sacrifício!
Nessa sua caravela, Portugal revela argúcia:
O seu compartimento acha-se repleto de mapas
E numa mesa, a bússola do Infante D. Henrique
Torna-se o segredo desse eterno e mítico Portugal
Que não se perde no seu oceano de virtudes,
Que salvaguarda a imensidão do seu prestígio!
Depois de acender uma pequena vela,
O nosso biografado senta-se junto à mesa,
E com uma pena e um pergaminho,
Regista os feitos prodigiosos das suas viagens,
Através da inspiração conjunta do seu camarada
Ao qual dão o nome de Luís Vaz de Camões,
Um homem pobre que perderia o olho direito,
Mas cuja cultura ímpar o faria amigo
Do nosso destemido Portugal.
Oh! E assim nascia o sonho do Quinto Império
Tão badalado por um Fernando Pessoa!
Mas hoje bem sabemos que a realidade é outra,
E o passado não mata as agruras do presente,
Contudo, tenho de o afirmar veementemente
Para que a verdade perdure pelo universo:
Esse Portugal, esse nosso Portugal,
Vulto imaterial e omnipresente,
Cometa de feitos luminosos,
Foi tudo aquilo
Que todos os outros,
Mesmo atolados hoje em rios de dinheiro,
Jamais o serão!
E junto à Torre de Belém,
Onde redigi estes versos,
A todo o mundo perguntei
Sem obter até então resposta:
Quem de vós ousará colocar em causa
A inusitada coragem dos filhos de Portugal
Que deram o mundo a conhecer?
Poema escrito a 10 de Junho, Dia de Portugal e de Camões.
Foto retirada de: turmadivertida.blogs.sapo.pt
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