O cavaleiro literário
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)
O que seria da poesia portuguesa
Se não tivesse um sadino de gema,
Que desprovido da cortesia inglesa
Viu no ordinário o seu exímio lema?!
Cada poema era um cavalo de guerra,
Cada verso um rude golpe no inimigo;
O seu nome bradava de terra em terra,
Bocage, o Geraldo-Sem Pavor da língua!
Ao fim do dia, após trucidar os incautos,
Enamorava-se das ninfas do rio Sado,
Narrando o seu erotismo pelos planaltos!
Guerreiro desbocado, romântico discreto,
Bocage colhia as begónias da Primavera
Antes de devastar cada espinho indigesto!
Imagem retirada de: http://www.mun-setubal.pt/pt/pagina/bocage-1765-1805/104
Nota adicional - O objectivo deste poema passa por elogiar Bocage que foi talvez o único escritor que soube transformar o calão e a "ordinarice" em arte literária. A sua frontalidade e coragem, mesmo sem medir as palavras, não deixaria ninguém indiferente. Os incautos, aqueles que agiam sem prudência, eram os alvos do seu tempo. Por outro lado, a referência a Setúbal e ao rio Sado não é de estranhar porque ali ficavam as suas origens, apesar de ter vivido grande parte da sua vida em Lisboa.
ResponderEliminarBocage foi um artista da escrita, revelando uma qualidade e originalidade inegáveis.