Naquela viagem de comboio
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)
Naquela viagem de comboio
Avistei o sobressair das escarpas
Cobertas de densas vinhas
Que amadrinhavam desde o alto
O sempre jovem rio Douro
Conferindo-lhe a abençoada plenitude.
As águas corriam mansas
E mesmo os seus musgos
Equiparavam-se a sardas
Que completavam um belo rosto!
E ali estava o rio pujante,
Consciente da sua nobreza,
Dirigindo-se rumo à Régua,
Percorrendo aldeias pitorescas
Ultrapassando calhaus milenares
E uma paisagem toda ela verdejante!
Mas aquele jovem rio não estava só:
Por entre os selváticos arvoredos,
Dionísio e Artémis beijavam-se enrolados
Por entre as folhas do amor,
O primeiro oferecia o vinho dos seus lábios
A segunda retribuía com a sua alma indomável,
Caçando corações a cada ciclo lunar.
E eu que também me senti rendido
Àquele santuário oculto da mitologia grega,
Queria ser parte do seu cenário natural,
Talvez uma colina frutificada,
Berço de ancestrais e futuras paixões,
Na qual o meu "deserto espiritual"
Seria suficiente para inspirar
Duas outras almas a cobrirem-se
Uma à outra
De uma infinidade pura de afectos
Por entre os ternurosos mantos verdes
Da voluptuosa Mãe Natureza,
Acalorada pelos beijos floridos
Que perpetuariam a magia do amor!
Foto da minha autoria tirada na Régua
Nota-extra: Dionísio e Artémis eram divindades gregas. O primeiro era deus do vinho e das festas. É equivalente ao deus romano Baco. Por seu turno, Artémis era a deusa da caça, da vida selvagem, da virgindade e protectora das meninas da Grécia Antiga. Está também associada à lua e à floresta.
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