Conteúdos do Blog

Nesta página electrónica, encontrará poemas e textos de prosa (embora estes últimos em minoria) que visarão várias temáticas: o amor, a natureza, personalidades históricas, o estado social e político do país, a nostalgia, a tristeza, a ilusão, o bom humor...

domingo, 19 de novembro de 2017

Poema nº 260 - Noite de Castelos e Caravelas


Noite de Castelos e Caravelas
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Deixa-me adormecer nos teus cabelos
Cerrar as janelas dos teus ébrios olhares
Para que a guarnição dos teus tornozelos
Se renda às desfolhadas outonais ímpares!

Deixa-me ser o amor em forma de castelo,
O guardião dessas tuas pétalas irracionais
Que desfilam pela altiva torre de menagem
Até desembocarem nos pátios imemoriais!

Não pensemos já nos exércitos do futuro 
Que cá virão para destruir o nosso sonho,
Falcões endrominados pelo almejo impuro!

Celebremos antes a ópera das estrelas
Nesta longa noite que foi por nós egoísta:
Porto das nossas venturosas caravelas!




Poema nº 259 - A luz foragida de Júpiter


A luz foragida de Júpiter
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)

Ao longe, eras um sol
Que esculpia torrentes de inspiração,
Protegendo a lua enlutada
Que te confiou o dia
Só para que esboçasses
O sopro sorridente da vida. 
Mas ao perto, 
Tornaste-te imprevisível
Como um asteróide enraivecido
Que fez tremer a terra,
Fazendo tombar o meu coração
Por entre as fissuras do solo
Cavando novos precipícios 
Que desciam solitários
Até ao negrume do vazio infinito.
E tu, mulher:
Sol querido e Asteróide revolto,
Sumiste-te por entre os portões
Do Palácio de Júpiter!
Deixaste de iluminar o meu dia,
De ser a candeia dos meus sonhos,
A fogueira do meu singelo coração,
E desapareceste,
Como um asteróide, 
Rumando para outra galáxia,
Sem que te declarasse o amor
Que nutria por ti,
Sem que depositasse no teu dedo
Um dos mais belos anéis 
Que Saturno me havia cedido
Para elevar a tua fisionomia supra-natural!




Foto retirada algures do Google Imagens

Poema nº 258 - A Alta Torre da Sabedoria



A Alta Torre da Sabedoria
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Não discutas com a torre da sabedoria
Porque ela do alto da cidade tudo visiona
Sancionando a boçalidade da periferia
Onde o vício da ignorância se ocasiona.

Não queiras ser uma torre também,
Porque corres o risco de te perderes
Diante das rajadas de ego que te coíbem
Da simplicidade dos teus rurais víveres. 

Sê antes uma pedra no riacho do amor,
Ou um boémio encostado a uma árvore
Vendo na neutralidade a cura para a dor.

Porque da ébria torre do conhecimento
Também nascem dragões indomáveis
Que flagelam o salutar discernimento.




Gravura retirada algures do Google Imagens

Poema nº 257 - É bom perder


É bom perder
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)

Por vezes, é bom perder
Porque é do erro
Que nasce a perfeição
O atalho para a virtude.
Perder é crescimento
Sofrer é amadurecimento,
Acautelar é sabedoria,
E tudo o que nos leva a perder
São meras lições do tempo
Que nos incute humildade
Em vez da vã sobranceria
Natural nos recorrentes vencedores!
Porque para saber ganhar,
É preciso saber perder,
Para se dar dois passos à frente,
Pode ser necessário dar um atrás,
E na aceitação das nossas limitações
Encontramos o segredo para a superação
Individual e colectiva
E o valor que devemos às nossas vitórias,
Mesmo que estas sejam ínfimas.
Afinal, o segredo da satisfação interior
Passa mesmo por aí:
Aceitar as consequências do perder
Como tutoras do espírito
Nas futuras aventuras do vencer!




Imagem retirada algures do Google 

domingo, 12 de novembro de 2017

Poema nº 256 - A Sumição do Comboio


A Sumição do Comboio
(Poema livre da minha autoria)

Engolfado pelos sonhos densos
Que a Lua me endereçava,
Seguia eu com os meus colegas
Num comboio
Que trilhava linha à beira-mar
Entre Espinho e Granja!
Das janelas, via-se o mar
Com um semblante bravo,
Concentrando em si a fúria de Poseidon
E parecendo querer tomar tudo em redor!
E as primeiras ondas começaram
A ameaçar a estabilidade do comboio
Derrubando dunas e passadiços
E embatendo na máquina ferroviária.
Em segundos, uma onda maior se formou,
O maquinista ainda abriu as portas
E eu, em poucos milésimos, logrei fugir,
Sorte reservada a poucos.
A maior parte da tripulação seria engolida
Pelo mar, pela crueldade do destino.
E nem os nadadores-salvadores
Chegariam para acudir os que se afogavam.
Depois acordei,
Aliviado e consciente de um pesadelo,
Os meus colegas estavam vivos e de saúde,
Mas metaforicamente,
O comboio era um ciclo de vida,
O mar era o tempo trajado à atleta,
E o meu mundo era a minha vida fugaz
Dada a esquecimentos sucessivos,
A desencontros múltiplos,
A desaparecimentos silenciosos
De almas amigas inspiradoras
Que integraram momentos,
E apenas momentos,
Desta minha madrasta peregrinação!




Praia sita entre Espinho e Granja/São Félix de Marinha com linha ferroviária. Foi aí que se incidiu o meu sonho/pesadelo.
Foto - Playocean.net

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Poema nº 255 - Céu de Cinza


Céu de Cinza
(Poema da autoria de Laurentino Piçarra)


O céu,
Vejam bem o céu
E como ele se agasalha
Com um casaco em tons acinzentados,
Para se resguardar da incúria humana. 
Não é pois a frieza temporal 
Que aniquila os povos
Mas antes a algidez humana
Radicada na indiferença dos poderosos 
Face ao calvário dos mais oprimidos!
Esse céu que se esconde timidamente
Em pleno Outono
É para os mais pobres
O refúgio das suas esperanças futuras,
Mas os ricos
Vêem-no como intercessor transcendental
Dos méritos que solidificam a sua soberba.
Na verdade,
Estes versos não nos levam a lado nenhum:
São meras folhas caídas
Dispersadas pelo vento
Que sopra pelas calçadas desertas
Sem que ninguém o queira presenciar.
Amanhã,
Quando o céu acordar,
Talvez já não estejamos cá,
E a Terra não seja mais que o seu reflexo,
Nu, triste, mórbido e depressivo,
Vítima do capitalismo e da ganância
Que vilipendiaram a fraternidade
E os últimos bastiões da moralidade.






Poema nº 254 - Perdoa-me a vilania


Perdoa-me a vilania 
(Poema da autoria de Laurentino Piçarra)

Se me amavas
E eu não te retribuí
É porque fora cegado pela ilusão
Pela mentira que avassalou o meu coração
Sem que te valorizasse
Como realmente merecias!
Se te magoei inconscientemente
Ao desejar outra mulher
Mereço ser por ti ignorado
Até à derradeira treva da escuridão
Soltando o meu arrependimento
Pelos sumptuosos anéis de Saturno!
Não sou merecedor do teu sorriso
Ou do teu carinho amistoso!
Desculpa-me, desculpa-me de verdade
Se neste crispar de emoções,
Não atendi ao amor que nutrias por mim,
Merecias mais, muito mais da minha parte!
Contudo, o destino
Esse agente imprevisível e infalível
Esboçou ironicamente um novo ciclo,
Onde sou eu que sinto agora por ti
Aquilo que antes sentias por mim,
E como rezam as crónicas da realidade,
O meu coração tornou-se num arquivo
De decepções reinantes,
De erros sucessivos,
De visões malogradas,
Mas quando analiso o teu pergaminho
Então ali bem escondido,
Pergunto-me:
Porque é que cometi o sacrilégio de ignorar
O teu lindo, perfumado e colorido texto
Onde a tua letra carolina
Era a chave da felicidade para o meu futuro?