Caras, Corpos e Corações
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)
Desde que me conheço,
Confesso que já idolatrei musas,
Modelos desfilantes do mundo real
Ou meras exibicionistas da esfera virtual!
Sim, rendi-me às suas formas
Aos seus corpos divinais
Em forma de esculturas helénicas
Que adornavam os meus jardins da Babilónia
Irreais, mas encantadores!
Mas depois um sábio disse-me:
Que a perfeição nunca fora boa conselheira
No mundo abstracto do amor:
Ela torna-nos reféns das aparências
Obriga-nos a exigir mais dos outros,
Quando somos nós os iludidos!
Somos aqueles que sonham com pontes
Quando não sabemos cuidar da ruela
Que ali está à nossa frente para nos servir!
Exigentes, falidos emocionalmente,
Mendigos de um colosso feminino,
Penitenciamos emoções inglórias
Porque só nos interessam as caras
E olvidamos os corações!
Mulher gorda ou magra,
Rica ou pobre,
Que interessa isso afinal!
O Sol brilha mais numa mulher
Quando é reflexo do seu sorriso puro,
Do seu coração sincero!
Não sou um profeta do romance
Nem sou servo de Zeus,
Mas aceitemos a imperfeição física
Da mulher doce e carinhosa!
Não haverá por aí muitas
Que nos tratem como príncipes da Pérsia,
Quando somos afinal meros peregrinos
Carentes de estima.
E não nos lamuriemos mais:
Antes isso,
Do que sermos prisioneiros
Das tais que venerávamos
Só pela profunda beldade exterior!
O fogo incauto que deflagra à primeira vista
Irracional e tóxico,
Destrói as florestas sentimentais
Dos seus ingénuos portadores,
E se não formos bombeiros humildes
Nas reflexões ardentes interiores,
Encontraremos apenas cinzas,
Cinzas dum tempo que se perdeu!
Imagem meramente exemplificativa retirada de: