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Nesta página electrónica, encontrará poemas e textos de prosa (embora estes últimos em minoria) que visarão várias temáticas: o amor, a natureza, personalidades históricas, o estado social e político do país, a nostalgia, a tristeza, a ilusão, o bom humor...

sábado, 5 de setembro de 2015

Poema nº 118 - O Apóstolo de Baco


O Apóstolo de Baco 
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)


Ó Baco,
Tu que és o Deus mais venerado,
Enche o meu copo com o teu brioso vinho!
Concede-me essa poção das mil maravilhas
Que distancia o homem das amarguras da vida,
Que glorifica a existência do paladar
Que adoça inclusive o mais pálido pensador!
Imbuído da sua simbiose indescritível,
Aqui estou eu apóstolo farrapeiro
Para proferir a minha mágica homilia
Nesta taberna recheada de talhas barrigudas.
Ó estimado vinho, junta-te a nós para assim:
Entoarmos o sublime cante alentejano,
Lavrarmos poemas às donzelas vilafradenses,
Dedicarmos panegíricos aos sultões do Alentejo,
E revestirmos as planícies de múltiplas cores!
A meu lado, estão o Chico, o Manel e o Augusto!
Todos já ultrapassaram o ritual com distinção,
Digeriram três copos em poucos minutos,
E mesmo só possuindo a quarta classe,
Escreveram versos tão magníficos como os de al-Mutâmide,
Observaram o Universo com a mesma genialidade de al-Khayyam
Tornaram-se filósofos e polímatas como Avicena,
Graças àqueles goles consagrados
Que transformaram aquela mesa humilde
No mais altivo altar do honrado saber!
Mas chegara a altura da nossa missão ascética.
De sairmos e deambularmos pelos ares
Desta pitoresca terra de videiras e pomares,
Deixaremos assim a taberna, o nosso sacerdócio,
E lá iremos nós de ruela em ruela, cantar o nosso fado,
Nesta nossa peregrinação pelas pedras da calçada!
O nosso andar é semelhante ao dos frades capuchos,
Mas dizem que somos certamente mais originais!
Pregamos o dom natural de Baco em Vila de Frades,
Ó se ele alguma vez existiu, decerto que aqui nasceu!
Quantos admiradores ele não conquistou na terra de Fialho?
Quantas intelectualidades não beberam aqui da sua fonte?
Quem não se embriagaria nas profundezas do conhecimento?
O nosso culto propaga-se pelo mundo inteiro!
Ó bendito crer que não é penoso, mas saudável!
Nenhum de vós precisa de orar ao abençoado Baco
Para que ele seja o vosso protector;
Se desejardes louvá-lo com magnificência
Basta beber da sua obra e honrar o seu sabor!
Que o digam os romanos na sua adega de São Cucufate!
Que o digam os monges que também produziram vinho!
Que o digam as gentes desta terra milenar!
Se Vila de Frades tivesse um grandioso rio,
Ele seria da cor dos seus vinhos palhetes,
A maior fonte de inspiração aos olhos do Mundo,
Onde homens sedentos pela receita de Baco
Mergulhariam nesse inenarrável paraíso
Habitado por ninfas, filhas do Deus Baco,
Que ostentariam nas suas testas grinaldas de videira,
E se entregariam aos audazes aventureiros
Acompanhadas de largas taças de uvas:
Uvas doces, sensuais e curandeiras,
Uvas dessa terra à qual chamam Vila de Frades.





Foto da autoria de Manuel Carvalho



Nota-extra: Os vilafradenses também são conhecidos como "farrapeiros" e daí a utilização desta designação no nosso poema. Estes versos são assim dedicados ao povo e às tradições de Vila de Frades.

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