O Calvário Camoniano do Rio Mekong
(Poema da autoria de Laurentino Piçarra)
Como rompem oscilantes os ventos
Tornando endiabradas e mortíferas
As águas do Rio Mekong
Situadas ao largo do longínquo Cambodja!
Por aquele extenso curso do Sudeste Asiático
Está prestes a claudicar um navio.
A seu bordo, está o Príncipe dos Poetas,
Um homem que perdera o olho direito em Ceuta
Que tinha sido provedor-mor dos defuntos de Macau
E que tencionava regressar a Goa!
Endividado e já com experiência em cativeiro,
Camões enfrentava de novo o presente sombrio!
O rio adensa a sua raiva contra os estrangeiros,
Está disposto a sentenciar o fim da tripulação
E a enviar o poeta, bem como a sua obra,
Para os confins do esquecimento eterno!
Camões agarra-se à sua epopeia,
Ao seu manuscrito glorioso,
Emancipador do orgulho de um povo,
Ao maior tesouro lusitano da era das Descobertas,
Com versos que vulgarizam quaisquer lingotes de ouro!
Muito perto dele, está Dinamene,
Uma musa chinesa de elevada afectuosidade
Que conquistara o coração de Camões!
O mastro cede à intempérie,
O naufrágio sucede-se:
As correntes ferozes derrubam a embarcação
Camões tenta salvar a sua amada,
A mulher que o amparara no sofrimento,
Mas perde-a de vista,
O rio escolhera friamente o seu primeiro alvo,
Aprisionando aquela donzela chinesa,
A sua nova ninfa eterna,
Nas suas escabrosas profundezas!
À superfície, o poeta lusitano grita pelo seu nome,
Mas os deuses não atendem ao seu chamamento!
A Camões, só lhe resta lutar pela vida,
Sem abdicar do seu precioso manuscrito,
Resistindo assim às vagas adversas do rio,
Bem como às elites ignorantes do seu tempo
Que vacilavam em publicitar a sua obra,
Num claro menosprezo votado à arte literária!
Mas o poeta, mesmo só com o olho esquerdo,
Desafia o contexto que é o seu pior inimigo,
E a nado, começa a vencer as forças da escuridão,
Inspirando-se na audácia das proezas lusitanas,
E alcançando, em breve, as margens redentoras:
Guardiãs fiéis da sua genialidade intemporal!
Imagem Retirada do Google Imagens
Nota-Extra - Este poema visou recordar os momentos de aflição vividos por Luís Vaz de Camões, aquando do naufrágio do navio em que então seguia no rio Mekong, durante o ano de 1560. Entre salvar os "Lusíadas" e a sua nova amada (a chinesa Dinamene), Camões só conseguirá mesmo preservar a sua afamada obra, nadando contra as correntes temíveis daquele curso de água asiático.
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