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Nesta página electrónica, encontrará poemas e textos de prosa (embora estes últimos em minoria) que visarão várias temáticas: o amor, a natureza, personalidades históricas, o estado social e político do país, a nostalgia, a tristeza, a ilusão, o bom humor...

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Poema nº 240 - Queria perder-me no abstracto


Queria perder-me no abstracto
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Queria perder-me no abstracto
Ser plural no seio da imensidão
Esquivando-me a qualquer retrato
Que definisse uma cruel precisão.

Não quererei alojar-me no concreto
Ou numa clausura de sentimentos
Como um monge norteado por decreto
Por cantos gregorianos de lamentos!

A felicidade supera qualquer barreira
Impele-nos à anarquia sã do desejo
À veneração pagã da arte pioneira!

E nesse culto de pendor selvagem
Renasceria para o fruto verdadeiro
Para a vitalidade da minha paisagem!




Poema nº 239 - Ceguem-me...


Ceguem-me...
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Ceguem-me se outrora te vi
E não despertei o meu olhar
Num luar de sonhos que perdi
Sem saber que te iria amar!

Não mereço a sorte da vida
Porque ignorei o teu amanhã
O mecenato da tua guarida
O templo da tua montanha!

Se antes te vi e não pressenti
O meu vindouro amor por ti
É porque te fui infiel e menti!

Traí-te, e traí-me a mim próprio
Porque não senti amor repentino
Não decifrei os planos do Cosmos!




Imagem retirada algures da Internet

Poema nº 238 - Culto da Solidão Perpétua



Culto da Solidão Perpétua
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Inúmeros anos se atravessaram
Sem avistar a luz do teu rosto!
Muitas memórias se eclipsaram
Consagrando o eterno desgosto!

Celibatário devido à tua ausência
Encho a pia baptismal com lágrimas:
Água cristalina da minha dissidência
Saudosa do corpo que esgrimas!

Enquanto monge que por ti professo 
Apenas não me coíbo dos sonhos:
Vitrais do nosso mútuo regresso!

Mas não há profecia que nos una:
Tu és agora uma mãe virtuosa
E eu poeira que o vento fuma!





domingo, 2 de abril de 2017

Poema nº 237 - A Primavera da Alma


A Primavera da Alma
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


A poesia é a primavera da alma
Tudo floresce nas circundâncias
Tirando proveito da brisa calma
Que erradica pavores e ânsias.

Um poeta é um exímio plantador:
Cultiva a árvore da doce harmonia
Semeia o vindouro fruto do amor
E herda das ninfas a sua sinfonia.

Não há versos sem sentimentos
Não há natureza sem plantas
Não há bonança sem adventos!

É tudo arte aquilo que nos rodeia:
Dali se bebe da fonte do poetizar 
Que cada coração tímido incendeia.





Imagem retirada algures da Internet

Poema nº 236 - Dói-me


Dói-me 
(Poema da autoria de Laurentino Piçarra)


Dói-me
Viver cada dia sem te ver
Sem te dizer que foste a mulher
Que sarou o meu coração oprimido
Quando eu já não acreditava no amor!
E mesmo não merecendo a tua brandura
A verdade é que te sou devedor:
Provaste que estava equivocado,
Que voltaria a sentir o calor da paixão,
E mesmo não sendo correspondido
Agradeço-te a ternura,
A arte do teu ser
As pétalas do teu sorriso rosado!
Tudo o que tu fazias
Estava certo,
Eras pintora do meu sorriso
Escultora da minha auto-estima!
Mas as forças ocultas me furtaram
Desse paraíso sentimental
Sem me despedir de ti,
Sem te prestar o meu elogio!
Não sou digno do teu pedestal,
Da tua dignidade de princesa
Comprometida diante das estrelas!
E por isso, deixei de te visitar
Resignado pela tortura da realidade
Pela impotência do futuro.
Resta-me agora ser um vilão da noite
Que se refugia na poesia
Na ilusão da escrita
Para perpetuar a tua grandeza
O teu exemplo que me inspira!





Imagem retirada algures da Internet

Poema nº 235 - Criança Adormecida



Criança Adormecida
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)


Pergunto-me:
Porque deixei de ser criança?
Porque vendi a minha ingenuidade?
Porque abdiquei dos sonhos?
Cresci para ser alguém
Mas ser alguém não é ser criança,
Não é desfrutar da sua pureza
E do seu altruísmo incondicional.
Se pudesse ingerir uma poção mágica
Para regressar ao limbo da fantasia
Faria-o na crença da inocência eterna
E no cessar desta vida condicionada!
Rejuvenescido diante do tempo 
Pintaria um vigoroso arco-íris
Para que este florisse o céu monótono,
E quando finalmente mergulhado 
Nesse cortejo de cores,
Voltaria a sonhar
Voltaria a esboçar um sorriso,
Voltaria a ser eu mesmo
Sem segundas intenções
Exclusivas da era adulta!
Agora resta-me apenas ser pai um dia
Para voltar a fazer renascer 
Parte dessa criança
Que ainda não morreu em mim,
Mas que jaze adormecida
À espera de ser acordada 
Por uma outra alma infantil 
Que partilha da mesma linguagem,
Do mesmo sentir genuíno!





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Poema nº 234 - Mulher da Humanidade


Mulher da Humanidade
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)


A vida sem ti
Seria uma morte iludida,
Um prado sem flores,
Um oásis sem água potável!
Tudo seria em vão
Porque o meu débil coração
Apenas mora em ti
Recusando outros abrigos!
E se não o sentisse
Seria um ateu do amor,
Deixaria derrotar-me pela frieza,
Pela morbidez celibatária!
Não gozaria sequer de inspiração
Nem para a escrita,
Nem para o mundo!
Seria órfão da tua ausência
E cativo de um destino obscuro!
Mas fui bafejado pela sorte
E desfrutei da benesse de te ver,
De me cruzar contigo
De agradecer a tua generosidade
De te amar até em segredo
E de acreditar que mulheres como tu
Fazem falta, não a mim,
Alienado pelo meu sentimento egoísta,
Mas antes à carenciada Humanidade!






Poema nº 233 - A Flor dos Ventos



A Flor dos Ventos 
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)


Recitem-se os salmos da natureza,
Porque dos montes áridos alentejanos
Irrompem rajadas de sonetos
Que convergem rumo ao Norte,
Fretando vivências singulares
De angústias incessantes
De amores frustrados
De sonhos por desvendar!
Os ventos dessa sua inspiração
Eclipsaram-se do interior adormecido
Para agora se dispersarem pela costa, 
Penteando o mar virgem
E acarinhando o areal macio,
Na certeza de que o afecto,
A terapia imprescindível da humanidade,
Poderia erigir novos castelos de paixão!
E ali estava ela,
Junto à charneca de uma lagoa,
Com miradouro perfeito para o mar:
Uma flor especial
Cujas pétalas tricolores
Eram afinal rimas genuínas
Que encimavam as dunas da ignorância
Para abraçar os novos ventos modernos
Dos quais, ela também fora empreendedora!





Foto - RTP



Nota-Extra: Poema de homenagem a Florbela Espanca, onde procuro no final do mesmo, aflorar a sua passagem por Esmoriz (referência indirecta a uma lagoa - Barrinha de Esmoriz, e ao próprio mar), como fonte natural da sua inspiração, visto que alguns eruditos acreditam que ela escreveu versos durante os dois anos em que esteve aqui viver. Uma das suas principais obras chama-se mesmo "Charneca em Flor", podendo mesmo esta conter versos escritos durante a sua estadia na então aldeia de Esmoriz por volta do ano de 1925.

Poema nº 232 - A Varina de Ovar



A Varina de Ovar 
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Solta-se um palavrão carrancudo
E lá vai ela com o cesto na cabeça
Difundindo o odor do peixe miúdo
Que incentiva o cidadão à despesa!

A sua dança não é um dom artístico
Mas obedece ao jugo do equilíbrio 
Coreografia de um azulejo místico 
Grito de um pincel ao livre-arbítrio!

Proferem-se sardinhadas de palavras,
O freguês regateia o preço firmado
Mas a varina faz triunfar o seu fado!

E o mar perde-se no vasto horizonte,
Poupado à euforia do povo feirante
Mas criador da varina contagiante!





Imagem retirada algures da Internet (Google Imagens)
Azulejo presente na Estação Ferroviária de Ovar



Notas-Extra: Muitas varinas de Ovar fariam a sua vida em Lisboa, onde adquiriram maior visibilidade. O cesto que a varina leva na cabeça é conhecido tradicionalmente por canastra.