Conteúdos do Blog

Nesta página electrónica, encontrará poemas e textos de prosa (embora estes últimos em minoria) que visarão várias temáticas: o amor, a natureza, personalidades históricas, o estado social e político do país, a nostalgia, a tristeza, a ilusão, o bom humor...

terça-feira, 30 de abril de 2019

Poema nº 341 - O lado metafórico dos chorões


O lado metafórico dos chorões
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)


Fixados sobre as dunas,
Os chorões não são só plantas
São sentimentos de paixões não-correspondidas,
Metáforas incompreendidas!
Os seus caules rastejantes
Simbolizam os longos caminhos tortuosos
E as suas retesadas folhas carnudas
São feridas cravadas nos corações,
Mas a sua flor é uma dádiva da Natureza
Que celebra a coragem dos que sofreram
Quase eternamente por amores impossíveis!
Só o fruto impoluto dos chorões
Poderá libertá-los do recorrente suplício,
Alimento sagrado que revigora os rejeitados
E abre os horizontes de um novo amanhã!
Os chorões prendem os areais
Mas liberam a nossa tristeza,
Basta que olhemos para as suas adversidades:
Se eles resistem aos mais terríficos temporais,
Porque não conseguiremos
Nós mesmos
Ultrapassar as oscilações extremas
Que proliferam por entre as nossas emoções?
Talvez, preferimos ser outro tipo de chorões:
Chorões humanos,
Transformados em cascatas de lágrimas
Que, pelos olhos, vertem desalmadamente
Para atenuar a dor,
Mas cuja fórmula não nos resolve
Nem nos indica um novo caminho!




Foto da autoria de Paul Hackney, Ulster Museum
Retirada d'O Blogue Verde


Nota-Extra: Como é lógico, este texto é metafórico. Apesar das palavras observadas no poema, o leitor não deverá ingerir o fruto dos chorões. Não sabemos se o mesmo é benéfico ou prejudicial para a saúde. 

sábado, 27 de abril de 2019

Poema nº 340 - Jardim de Desejo


Jardim de Desejo 
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)


Sei que já não me lês,
O meu café tornou-se amargo
Só de pensar nesse infortúnio,
Reduzi-me ao abrigadouro da ilusão
Visão romântica da solidão
Que perpetua o teu nome
Nos meus lábios!
O vento faz estremecer os guarda-sóis
Nesta esplanada à beira-mar,
E eu, com a pele arrepiada,
Perco-me por entre a simpatia
Depositada pelas empregadas,
Penso ver o teu sorriso 
Nos rostos delas,
Mas a mente finta a realidade,
E eu consinto os seus truques
Só para acalentar a infundada esperança!
Após incessantes divagares, 
Uma surfista desce pelas escadas
De acesso ao bar costeiro
Onde me encontro,
Carrega uma prancha colorida
Pronta para enfrentar as ondas,
Da sua cara amorenada
Uma cicatriz, em forma de vírgula, sobressai
Aformoseando uma das suas sardas maçãs,
O seu cabelo louro
Parece contaminado pela luz do Sol,
Será estrangeira?
Não sei,
Talvez seja altura de saber,
De escapulir-me pelos portões do obsoleto bastião,
E conhecer novas flores
Para que o meu solo arenoso
Se torne num deslumbrante jardim!






domingo, 14 de abril de 2019

Poema nº 339 - O que a Morte (não) nos conta


O que a Morte (não) nos conta
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)


A Morte
Só existe porque vivemos,
Não sei do que virá dela,
Se um renascimento
Noutra dimensão recôndita
Ou se o extinguir inclemente
Das nossas memórias
Rumo ao desaparecimento perpétuo!
Já não peço as verdades
De religiosos ou cientistas
Porque a presunção não é conselheira,
Nem agora, nem na vida inteira!
Até hoje, não convivemos com alguém
Que tivesse regressado do mundo dos mortos,
Não inventámos a máquina do tempo
Nesse futuro que ainda não vivemos,
Ninguém virá acudir-nos,
E contar o que queremos saber!
Mas agora faz-se tarde
Não há tempo para teorias,
O mundo é como é,
Nascemos, sem pedir,
Morreremos, talvez a suplicar!




Imagem meramente exemplificativa retirada de: https://duronaqueda.blogs.sapo.pt/o-que-e-a-morte-parte-02-final-687543

Poema nº 338 - Máscaras Ideológicas


Máscaras Ideológicas 
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)


Infiltro-me por uma multidão
Ouço gritos de rancor
Os mercadores estão em alvoroço
As taxas foram inflacionadas,
E eu que sempre fui comunista
Fiel à defesa dos mais pobres,
À igualdade do tratamento social
À promoção da camaradagem fraterna!


Entrincheiro-me agora num palácio
Os poderosos simulam mudez diante da agitação,
Omitem os receios de uma mudança,
E exigem mais dinheiro ao povo,
E eu que sempre fui capitalista,
Rendido à directriz máxima do lucro
À promoção do mérito individual,
Ao engrandecimento da inovação!


Vejam como a realidade é carnavalesca,
Molda-nos a cada momento,
Agora não sou comunista nem capitalista
Se o fui, apenas o teatralizei por instantes,
Tornei-me num corpo estranho deste conflito
Não tenho ideologia ou máscara,
Esquivo-me do messianismo político hodierno,
E miro o nevoeiro, à espera de D. Sebastião!





Imagem meramente exemplificativa retirada de: http://controversia.com.br/7734

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Poema nº 337 - Silêncio Mendigo


Silêncio Mendigo 
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)


Sou o silêncio
Que não te apraz
Quanto te sentes só
Amparada apenas pelos teus pensamentos
E pelas súbitas pulsações
Que dispensas no horizonte vazio!
Não me vês,
Mas sentes-me,
Não me amas,
Mas queres-me a teu lado,
O teu não
É um sim camuflado
Preferes a razão às sensações
E o futuro está ali ao virar da esquina,
Bate-se uma porta,
Soltam-se uns murmúrios,
Alguém se aproxima,
Não, não sou eu,
Oxalá não seja,
O destino vetou o nosso romance:
Tu e eu somos sombras
Perdidas e carentes,
Silêncios que se cruzam
Nos ares da saudade,
Gritos reprimidos da noite fria
Paixões exiladas pela negação
Caminhantes de desertos longínquos,
Assim é, assim será
Até que o mundo se esqueça de nós!





Poema nº 336 - Chuva Sentimental


Chuva Sentimental 
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


O céu vai-se trajando de negro
E as sombras, filhas da luz artificial 
Depositam em mim o desassossego 
Um amor granizado e superficial. 

Rebentam dois ou três trovões
Rasga-se a cúpula dos sonhos
Não há espaço para anfitriões
Sobram espectros medonhos!

E nisto, sei que me abandonei
Vi a resignação como amnistia
Perdi o futuro que não sondei!

Mas de nada servem as lágrimas
Já bastam os aguaceiros nocturnos
Pingas que aliviam corações soturnos.





Poema nº 335 - Brisa Solitária


Brisa Solitária
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)


A brisa é uma melopeia
De um tempo nostálgico
Que nos invade a alma
Hipnotizando a nossa disposição
Anestesiando o pessimismo,
E maravilhados
Não percebemos nada
Porque o incógnito é perfeito,
Enigmático,
E a música, invisível,
Mas que conforta os peitos
Dos futuros esquecidos.
Dançamos o tango da vida
Com pares aleatórios,
Mas somos carne, quase pó,
Perante o Universo.
Ah! Quando o tempo muda
E adere à música pesada
Os ciclones devastam-nos
E uma vez mais
Perguntamos:
Porquê?
Não há respostas,
Não há verdades absolutas,
Apenas melodias que ficam
Sentimentos que voam
Corpos que expiram,
Brisas que aliviam o pranto
E a descrença permanente!





Foto da autoria de Lola Martínez Sobreviela em: https://www.fotocommunity.es/.../brisa-lola.../41487906

Poema nº 334 - São Teotónio


São Teotónio
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)


Teotónio caminha até Jerusalém
Liberta-te,
Voa em direcção ao sonho
Que ilumina a tua vida:
Sê a águia dos teus princípios,
E sob as plumas da coragem
Sobrevoa o céu que te inspira
Mas nunca te olvides
De descer também à terra
Porque é nela que nasce a glória!
Aceita a missão que te confiaram
Cuida dos doentes e dos pobres,
Afaga as dores dos peregrinos,
E estarás em Jerusalém
Pela terceira vez
Sem que dês conta disso.
Já diziam os conselheiros do além:
Para quê conquistar o mundo
Se perdemos o nosso interior?
Para quê entrar em Jerusalém
Carregando a ambição e o poder?
A ti, Teotónio bastar-te-à seres autêntico
Não precisas de ser bispo
E tu sabes disso!
Sê tu mesmo,
Sê à receita final das terras em que viveste:
Não recuses a infância genuína em Ganfei,
Não omitas a sabedoria de Coimbra
Nem menosprezes a frugalidade de Viseu,
Mas agora voa para a Terra Santa,
Nos teus sonhos
Em pleno Mosteiro de Santa Cruz,
Mas não temas a negação da realidade
O teu exemplo canoniza o solo
E inspira procissões de crentes!








Nota-Adicional: São Teotónio viveu entre 1082 e 1162. Foi o primeiro português a ser canonizado em 1163. Nascido em Ganfei (Valença), estudou em Coimbra e foi prior de Viseu. Foi duas vezes a Jerusalém, viagens desgastantes e arriscadas, tendo em conta que as distâncias eram mais difíceis de percorrer na Idade Média. Tentou fazer uma terceira viagem a Jerusalém porque tinha o sonho de viver lá definitivamente, mas terá sido demovido dessa ideia/sonho por D. Afonso Henriques, rei de Portugal, D. Telo, arcediago de Coimbra, e D. João Peculiar, bispo do Porto. Ficaria em Portugal onde acabaria por fundar, com mais 11 religiosos, o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, do qual foi eleito o primeiro prior e ali viveu o resto da sua vida, sempre com o ressentimento de nunca ter passado o resto da sua vida em Jerusalém mas com a convicção de que ficou a auxiliar o seu povo. Em jeito de curiosidade, refira-se ainda que São Teotónio foi convidado durante a sua vida a ser bispo de Viseu e Coimbra, mas sempre recusou porque sempre quis ser um peregrino ou ajudar os mais necessitados.

Poema nº 333 - O Castelo dos Sonhos


O Castelo dos Sonhos 
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Guardas, baixem a ponte levadiça
Para acolher o cavaleiro da noite
Órfão de qualquer filosófica premissa
Bastardo molestado ao ritmo do açoite!

Deixem-no entrar no milenar castelo 
Acendam lareiras que o aqueçam
Que hipnotizem o seu esgar singelo
Antes que os deuses o escarneçam!

Que o subconsciente alivie o seu pesar:
Que ele possa ser o herói do seu sonho
Aquele que todos possam idolatrar!

E então, desde a maior torre de menagem,
Por entre as ameias solitárias e desconexas,
O sentinela régio lhe prestará vassalagem!






Poema nº 332 - Mulher Perdida


Mulher Perdida 
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Conquistei torres e muralhas
Mas "cego" perdi-te no arrabalde
Nessa odisseia louca de batalhas
Em que não obtivera respalde! 

Sei que ainda escuto o teu sopro
O consolo da minha alma guerreira
Que acusa as mazelas do corpo
E requer a tua protecção pioneira!

Das tuas mãos, nasce a harmonia
Que acalma o fôlego incessante
E coroa de prazer a anatomia! 

Talvez tenhas sobrevivido ao mundo
À peleja dos homens gananciosos
E sejas agora um diamante jucundo!