Não dou graças
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)
Não dou graças à vida
Porque iludo-me na claridão
Dos formosos horizontes
Deixando-me encantar
Pela aurora despertante
Que nasce no berço da esperança!
Mas o meu mundo desaba
Logo que emerge o receoso escurecer,
Uma nuvem assombra o espírito
Enclausurando-o num poço profundo
Onde a água turva me provoca amnésia,
Talvez para que me esqueça deste Universo.
O que eu faço aqui,
Não o poderei saber
Luz e escuridão combatem entre si
A cada dia que passa.
E eu sou um peão no meio da guerra
Mas não sei a quem sirvo,
Vivo na incerteza
Que só me alimenta
Porque ainda não fui sacrificado
Pelas forças do destino.
Não dou graças ao raciocínio
Porque impõe-nos regras
A obediência ao oculto
Ao celibato dos instintos selvagens
E nisto tem o meu senso comum cedido
Sem saber se ando perdido
Nesta criação confusa e complexa,
Neste labirinto de dialectos imperceptíveis
Impossíveis de decifrar.
Prometi a mim mesmo
Que não vos iria mentir
Estivesse eu no poço da escuridão
Ou na planície primogénita do Sol,
E por isso vos confesso:
Como invejo o vento
Que nada sente ou pensa
E que vai para todo o lado
Sem pedir justificações
Sem introspecções místicas.
Imagem meramente exemplificativa retirada de: universalprudentopolis.blogspot.com
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