I
O Oásis. Encontrei o oásis depois de uma caminhada longa no deserto. Agora é altura de descansar junto a uma tamareira. Descansar o meu corpo agastado e ensombrado pela longa travessia, bem como a minha alma ingénua coberta pelo véu da consciência. Não, não quero sair deste refúgio. A natureza é mais benemérita e generosa do que os próprios humanos.
II
Nos bastidores, dizem agora que sou de luas, ou que até padeço de algum desequilíbrio psicológico. Não sei se isso será verdade porque não sou médico de mim mesmo, mas sei sim que há mais transparência e inocência num louco do que, por exemplo, num político hipócrita que se cinge a manobras obscuras.
A astúcia, a arte de conhecer as manhas, não está reservada aos verdadeiros detractores do sistema, mas antes aos que, sedentos de ganância e ambição, desejam ainda acumular mais poder para desnorte dos que têm o azar de depender deles.
III
Penso muito na vida além da morte, mas é tudo perda de tempo. A morte só existe enquanto vivemos, e eu nela tenho vivido desde que nasci!
IV
Perguntaram-me um dia se a honestidade compensa? E eu respondi - se anseias pela compensação material, digo-te que perdes o teu tempo! Se te preocupas com as coisas do espírito, serás então uma rosa pura a desabrochar na planície.
V
Um dia, pensei em iniciar-me na vida política. Depois cheguei à conclusão que não tinha jeito para lavar roupa suja ou para prostituir a mente diante dos seus deuses partidários. Com todo o respeito, e que me desculpem as excepções à regra, mas não aprecio bordéis do pensamento.
VI
A obsessão em torno de um amor não-correspondido pode tornar-se numa droga ainda mais letal do que aquelas que fisicamente são contrabandeadas pelas favelas da perdição. A ilusão da paixão tortura e o desgosto final poderá traduzir-se num fardo demasiado pesado e angustiante para o coração!
VII
Um dia, o meu antigo professor de português contou-me que havia atribuído nota 20 a um aluno que tinha apresentado um trabalho com apenas uma folha em branco. O tema do trabalho incidia sobre o vácuo...
VIII
Quando li numa notícia que nas eleições legislativas cada voto num partido permitia a este a recepção de uma quantia a rondar os três euros, decidi então depositar as minhas esmolas no partido dos Animais. Ao menos que o dinheiro sirva para os animais, já que os homens não se sabem governar. Aliás, nunca souberam!
IX
Diz o povo que quantidade não é qualidade. Mas se não houver o mínimo de quantidade, não será na nulidade numérica que surgirá a qualidade teórica. E a matemática sempre foi madrinha dos bons frutos.
X
Omar Khayyam, quem me dera mirar os astros a partir do teu observatório em Merv. Não vês que as estrelas desenham os rostos de mulheres belas que, encobertas pelo véu do Universo, outrora dançaram como cometas indomáveis, jorrando o vinho pelas suas cascatas e matando a sede amorosa de príncipes e sultões?
XI
Por vezes, vejo uma certa mulher a olhar fixamente para mim. Não sei porque o faz já que rejeita todas as minhas tentativas de aproximação. Não sou perito em ler manuais de regulamentos femininos, nem tampouco serei filósofo intérprete dos olhares. Apenas sei que não te quero para minha sombra.
XII
As redes sociais daqui a quinhentos anos serão, em grande parte, mausoléus de utilizadores que o tempo já sepultou, mesmo que eternamente preservados pelas tecnologias.
XIII
A igualdade de uns implica, muitas vezes, a desigualdade para outros. Mesmo que o legislador enfeite a medida com um rol de palavras transparentes.
XIV
Também eu seria comunista se os seus princípios fossem perfeitamente concretizáveis, mas quando olho para a realidade, encaro a utopia e o pesadelo, de mãos dadas, que encarnam algumas ditaduras déspotas em que a fome grassa nas multidões. Como eu gostava de estar enganado!
XV
E o capitalismo? Uma máquina de fazer dinheiro e vender em nome da qualidade, escondendo que o seu segredo provém afinal dos sacrifícios da mão-de-obra muitas vezes ignorada como esta se fosse uma compilação de meros registos individuais.
XVI
Um amigo meu contou-me uma vez que foi atacado por um lobisomem à noite. Perguntei-lhe se não teria sido antes uma partida de Carnaval!
XVII
Disse uma vez o padre - "quem for contra este casamento fale agora ou cale-se para sempre". Felizmente, a mensagem era dirigida para a plateia que até cumpriu o prometido. Por seu turno, os noivos logo andaram às turras ao fim de dois meses. Mas não podem acusar todos os outros de faltar à palavra naquele instante. Afinal, os padres dirigiam-se mais aos convidados que tinham investido balúrdios de dinheiro naquele dia festivo. Até mesmo em esmolas!
XVIII
Não queiras o mundo. Abraça o suficiente. Poucos nasceram para ser reis.
XIX
Um animal de estimação: a cura da solidão!
XX
Jovem, não queiras apenas ganhar e viver do efeito amuleto. No desporto, nas artes ou como em tudo, importa primeiro fazer bem e assimilar a qualidade. Ganhar é apenas a mentalidade da etapa adulta.
Pensamentos da autoria de Laurentino Piçarra
Imagem meramente exemplificativa retirada de: http://blogdamaramoura.blogspot.com/2017/09/
Nota-Extra: Os pensamentos do autor foram fruto de momentos particulares, não pretendendo ser deselegantes ou faltar ao respeito de alguém em concreto. Todos temos afinal direito aos nossos pensamentos, podendo ou não ser partilhados por quem nos lê. A maior parte dos pensamentos aqui exibidos pretendem transmitir lições de vida.
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