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Nesta página electrónica, encontrará poemas e textos de prosa (embora estes últimos em minoria) que visarão várias temáticas: o amor, a natureza, personalidades históricas, o estado social e político do país, a nostalgia, a tristeza, a ilusão, o bom humor...

domingo, 29 de novembro de 2015

Poema nº 145 - Regresso ao Passado


Regresso ao passado
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)

Barrinha,
Não sei do teu amanhã,
Nem eu do meu.
Deserdaram-nos o sorriso,
Roubaram-nos os sonhos,
Impuseram-nos tempos brumosos,
Linhas de água de reflexo ausente!
Ainda assim, continuas a ser o berço das aves:
Ouço o grasnar tonto das gaivotas,
Contemplo a dança imperial das águias,
E enxergo, ao longe, as garças da realeza!
Bem sei que foste glorificada no passado,
Tiveste porto, ponte, cais e grandes senhores,
Ainda pressinto a azáfama medieval em teu torno,
Eras praticamente um oásis impreterível!
De ti, contam-se as mais infindáveis lendas:
De pescadores valentes que desafiaram o medo,
De agricultores remediados que recolheram ervagens,
De reis e princesas que sigilosamente por lá navegaram,
De jovens que se enlaçavam em noites românticas
De luares de mel que jamais findariam diante do teu encanto!
Oh! Que dor se abateu agora sobre a tua alma, Barrinha,
Furtaram-te o passado, abandonaram-te frivolamente!
As lágrimas que derramas dessas nuvens são mesmo tuas,
Mas não chegam para purificar a ignorância humana.
E eu que me acho junto a este teu irmão-afluente:
Assenhoreio-me de uma rudimentar barqueta,
Planeando remar desalmadamente,
Para que nós os dois possamos retornar
Ao saudoso passado, onde fomos felizes!





Foto da autoria de José Fangueiro



Nota-extra: A Barrinha de Esmoriz contou com uma ponte que foi construída e demolida no século XIX (a sua utilização terá durado poucos anos). A lagoa albergou ainda um porto medieval no século XIII (citado nas inquirições de D. Dinis em 1288), e um cais que, embora mais recente, já não existe, mas que fazia a ligação de barco entre a estação de caminhos de ferro e a praia de Esmoriz, em tempos onde o automóvel não se tinha afirmado ainda nas sociedades contemporâneas

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