Aldeia Universal
(Poema livre da autoria de Laurentino Piçarra)
Aceitei o teu pecado:
Mataste-me nas tuas memórias
Fazendo dos nossos isolados encontros
Desperdícios casuais.
Eu procurei em ti
O alimento da alma
Mas tu, ceifeira, senhora da sua seara,
Não deixaste abeirar-me da tua farinha,
Encerraste o teu coração numa torre de pedra
Envolvida por lancinantes espigas de trigo!
Mas eu não desisti:
Construí uma escada de madeira
Atravessei a vegetação ofuscante
E abordei a tua fortificação empedernida!
Alcancei a janela da atalaia
Mas tu logo afluíste a ela:
Abriste-a
Beijaste-me,
Afagaste o meu rosto
E depois empurraste-me
Brusca e friamente,
Desde o alto dos meus almejos
Fazendo tombar o meu corpo
E a minha escada inglória
No solo duro e frio da realidade!
Os corvos irromperam logo nos céus
Enquanto o meu corpo mortificava
Aguardando o fim inevitável.
Ainda ouvi ladainhas ao longe
Eram os monges dos teus sonhos
Protectores da tua jovialidade
E da tua integridade sensual,
Que se aproximavam para sepultar
O meu cadáver sentimental!
Os olhos fecharam-se no vazio
Na solicitude de um milagre revitalizante!
Ressuscitaria depois na tua ausência
Para viver noutra aldeia,
Ali voltei a perseguir o alimento do amor
Nāo nas searas ou nos moinhos
Mas numa cabana de sonhos vivos:
"Véu de dança" de dois corpos
Fusão sagrada de duas almas perdidas
Que rematam em si o Firmamento Corporal!
Desse copular de beijos-cometas
Se procriarão novas estrelas:
Filhas e filhos do futuro,
Que não tomarão torres,
Mas antes os castelos mais indomáveis!
Imagem meramente exemplificativa retirada de: https://roaringwaterjournal.com/tag/medieval-castle-illustration/?fbclid=IwAR21NrGeVnKjI4Uw1ZKGJlSlNrT9xx8bqvVimpBFZ9_-OZuTpsnjyraIT9k
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