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Nesta página electrónica, encontrará poemas e textos de prosa (embora estes últimos em minoria) que visarão várias temáticas: o amor, a natureza, personalidades históricas, o estado social e político do país, a nostalgia, a tristeza, a ilusão, o bom humor...

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Poema nº 27 - Simbologia da Pedra



Simbologia da Pedra
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)

Estática, ela finge-se discreta,
Muitos a julgam claramente inútil
Outros salientam a sua imobilidade fútil,
Mas oculta está a sua essência secreta.

Arma de arremesso das catapultas medievais
Decidiu batalhas e cercos em dias de glória
Devastou castelos até então "imortais",
Escrevendo novas páginas na História. 

Mas ela também abrigou o ser humano
Com habitações resistentes ao frio devastador
E impôs calçadas no itinerário orientador.

Definiu limites geográficos através de marcos,
Ergueu pontes que entusiasmaram engenheiros,
E, no fim, revestirá os túmulos dos "viajantes" derradeiros.





Poema nº 26 - A Muçulmana Ingramaticável da Medina



A Muçulmana ingramaticável da medina 
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Não há palavras para descrever
O lustroso corpo que carregas, 
Subjugador das energias das trevas,
És a razão inédita do dia renascer!

Espio-te quando vais ao bebedouro
Encher cantis de água purificante
Para os teus progenitores sem semeadouro
Mas mentores desta obra de arte coruscante.

A burca negra encafua ingloriamente a diva
Como a terra dispersa caçadores de tesouros
Sem aqueles equivalerem à tua cristalina fibra.

Ninguém ocasionou descobrir a pérola
Cuja verdura do seu intenso olhar
Hipnotiza até o mais impetuoso jaguar.




Retrato retirado de: http://lcjuniorspeed.tumblr.com/page/16 (pintor - Lcjunior)

Poema nº 25 - A Atalaia da Miragem


A atalaia da miragem 
(Quadras da autoria de Laurentino Piçarra)


Fito esta estrutura defensiva,
Largada ao infausto relento,
Desamparada pelo tempo,
No exterior da cidade ostensiva.

Galgo as escadas decrépitas,
Miro cada pedregulho agora virginal:
Logo me brotam as posturas ascéticas,
Que fazem sofrer por qualquer amor irreal!

No cimo, vejo a mulher da minha vida,
Ao longe, ela acena-me com veemência
E eu, conquistador, curo a grande ferida:
Sinto-me desejado por ela - cingida à clemência.

Mas naquele alto tudo era fruto da ilusão,
Exércitos que nunca vieram para assediar,
Ninfas que nunca foram sequer à torre recitar
Os seus versos sumptuosos aos membros da guarnição.

Quando desci vagarosamente as escadas,
Pousei na terra do realismo incondicional,
Os sonhos ardentes sumiram como um vendaval:
Aquela mulher seguiria outras e inalcançáveis estradas.




Imagem da autoria do utilizador Gabrix 89

Poema nº 24 - Ponte Esquecida


Ponte Esquecida 
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


A nossa feliz aventura caducou,
A vida traçou novos caminhos
Separados e assaz sozinhos,
Só a memória passada sobrou.

A Natureza ergueu entre nós montanhas,
Destruiu a ponte de madeira relacional
Deveras passageira mas especial
Que não resistiria às inglórias patranhas. 

Sou um ínfimo e atracado pedregulho
Preso irremediavelmente no ponto de partida 
Recordando os restos da intimidade abolida. 

As saudades corroem o meu interior 
Mais frívolo do que as nuvens
Mas que pelo teu retorno é sonhador.




Foto deslumbrante da autoria de Joel Santos

Poema nº 23 - A Bicha das Sete Cabeças de Silvalde



A Bicha das Sete Cabeças de Silvalde
(Poema da autoria de Laurentino Piçarra)


Numa terra de rurais,
O povo vivia do labor
Orava com claro temor
Depois dos diálogos triviais.

Em certa noite, ecoou a gritaria,
Tinha morrido o pobre Faria 
Ceifado por um monstro invernal
Que propagava sua feição surreal.

Uma serpente de sete cabeças?!!!
Agora foi o coxo do Lino esmagado!
O Demónio profetizava sentenças
Que deixava o povo aterrorizado!

O padre Rodolfo entrincheira-se na Igreja,
A mocidade encontra-se fascinada
Por este ser vil que habilmente rasteja
Acentuando sua herança desafortunada!

Agora pereceu o Chico camponês
Desgraçado, ficou sem uma perna.
Maldita Hidra de Lerna que inferna
Este aglomerado trabalhador e cortês!

O povo decidiu esquecer as divisões,
Uniu esforços e as mesmas ambições
E, pela escuridão silenciosa, marchou
Buscando a segurança que paralisou! 

Rumaram à ribeira de Rio Maior:
Um pescador morto flutuava,
A criatura originava todo o temor,
Até a respiração dos populares ofegava! 

O ninho não deve estar longe 
Avançam um pouco a nascente
Acompanhados pela oração dum monge
Que prega a inevitável morte oprimente. 

Finalmente, uma cabana abandonada!
Tripulada por ninhos diabolizados
Os quais rodeados de crânios degustados
Apavoravam esta estrutura desertada.

Das suas visitas, a hidra logo se apercebeu:
Saiu e atacou o Sérgio humilde pescador
Que perdeu um olho com incrível horror,
A Marília, um dedo, logo perdeu!

O padre Rodolfo fugiu a gritar,
Mas Horácio, cavaleiro pujante,
Arribava à aldeia tumultuante 
E acorreu à cabana sem pestanejar! 

A luta foi cruel e assaz desesperante
Mas Horácio logrou decapitar
As sete cabeças da criatura inquietante
Cuja malévola elasticidade sabia explorar!





Poema nº 22 - No baloiço da indefinição futurista



No baloiço da indefinição futurista
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Naquela noite, variadas sombras oscilavam:
Vultos apressavam-se pelas ruelas da ousadia
Arbustos tremiam com a desconfortável ventania
E as Corujas, pressagiantes e temerárias, piavam!

Ali me encontrava a baloiçar na vincada escuridão
Disputada acerrimamente pelo penetrante nevoeiro
Que vaticinava futuras eras de maliciosa privação
Desprovidas de heróis e dum abençoado padroeiro!

Os lobos uivavam de modo ininterrupto e intensivo
Talvez flagelados pelos sintomas dum futuro tétrico,
Onde a solidariedade será engolida pelo ambiente repressivo!

Michel Nostradamus presenciou noites desta intrigante natureza,
Nas quais, o silêncio - revelador duma presumível e equitativa pureza,
Era abruptamente perturbado pelos maus augúrios das criaturas nocturnas.





Poema nº 21 - O Assombrado Cais da Barrinha



O Assombrado Cais da Barrinha
(Poema da autoria de Laurentino Piçarra)


A poente da modesta estação de Esmoriz
Subsistiam os vestígios dum antigo cais
Uma estrutura outrora com o seu chamariz,
Embarcando gentes desde a lagoa até aos areais!

Pelo trajecto, pessoas reviviam serões joviais,
Enxergavam as margens pantanosas
E os resquícios da ponte dos imemoriais,
Deslizando assim sobre as águas ludibriosas. 

Mas ali agora encontrava-me eu numa gélida noite,
Mirava os morcegos em torno do cais destroçado
Onde um só barco moribundo pontificava o destino enguiçado!

Refém dos caniços, aquela plataforma pedia socorro
Mas jamais alguém a conseguiria realmente escutar,
Excepto os pássaros que nela ansiavam pousar!

Entretanto, um vulto negro deambulava pelas estacas
Entrava no barco, e remava-o até à infinidade sombria,
Trajando a escuridão com o seu ritmo mórbido!

Circundado por corvos e milhafres esfomeados
Ele semeava a destruição nos lugares que desflorava
Minando a vida dos pobres animais desnorteados!

Até em mim proliferava o medo, aliado íntimo da inércia!
E assim contra a vontade do meu espírito enérgico
Reinava na lagoa um príncipe oculto e maquiavélico!





Poema nº 20 - Jeremias e o Moliceiro da Murtosa



Jeremias e o Moliceiro da Murtosa
(Quadras Longas da minha autoria)


Na ria de Aveiro, velejava um tripulante no seu velho moliceiro:
Jeremias, homem recatado, prezava demais o seu trabalho,
Exibia, sem vexame, os seus trapos e linguagem de vareiro,
Mesmo quando a sociedade o via como mero espantalho!

A sua embarcação inscrevia-se em madeira de pinheiro
Revestida depois de múltiplas e adornadas cores
Que enfeitiçavam os turistas com um desejo derradeiro:
Percorrer aquelas margens inspiradoras de poetas e pintores!

Mas Jeremias recolhia igualmente o afamado moliço
Usado para adubar a sua modesta propriedade agrícola, 
Labor que conhecia desde os seus tempos de noviço!

Executava ainda o ofício de pescador com devoção
Extraindo sáveis e lampreias das águas esverdeadas
Que alimentariam, nas típicas mesas caseiras, cada corpo são!

Ah! Murtosa - empolgante terra das insignes conservas,
Onde mar e ria se aliam para ceder o melhor do nosso peixinho
Cobiçado à distância pelas aves que sentem o profundo cheirinho!

Elsa, irrepreensível mulher de Jeremias, dotada na cozinha tradicional,
Preparava, com rigor, saborosas e irrecusáveis caldeiradas de enguias 
Que atraíam ao seu azulejado casario uma infinidade de companhias.

Ó sortudo Jeremias, vives num concelho rural que idealiza harmonia,
Acampado ainda pelos inúmeros escuteiros que o glorificam,
Abraçando Baden-Powell na defesa do ambiente em sintonia!

O que seria de Portugal sem a deslumbrante vila da Murtosa!?
Na qual labuta Jeremias que dispensa qualquer protagonismo,
Assimilando a complexa identidade de toda aquela paisagem airosa.




Quadro da autoria de Luísa Fonseca

Poema nº 19 - O Careto que era Autarca



O Careto que era Autarca
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Vítor era um político desastrado
Corria-lhe nas veias a incompetência,
E o seu bigode, sujo de maledicência, 
Há tempos que não era cortado!

Mas ele tinha um fetiche carnavalesco:
Desfilava com trajes de careto!
Reivindicava nesta origem céltica
A dissimulação do seu perfil grotesco.

No cortejo, ele exorcizava os demónios,
Ninguém o identificava pelo disfarce,
E encetava a sua dança cheia de devaneios

Um dia, o presidente satisfez a curiosidade
E perguntou - quem era aquele talentoso jogral?
Era só o seu preferido vereador e assessor geral!!!





Poema nº 18 - O Desassossego Medieval do Serafim



O Desassossego Medieval do Serafim
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


O Serafim queria uma mulher rica,
Cheia de dinheiro e de propriedades
Que lhe servisse as comodidades
No seu projecto de vida idílica. 

Ele alegava não ser tão exigente,
A mulher até poderia ter buço, 
Mas desde que tivesse tusto
Já era digna dum pretendente.

Um dia rejeitou uma mulher pobre
Mas esbelta como uma princesa,
Preferindo sondar a idosa baronesa!

Só que o Serafim morreria solteiro!
As damas da nobreza estavam na penúria
E eclipsaram a sua ambição por inteiro.






Poema nº 17 - A Desgraça dum Cão Abandonado



A Desgraça dum Cão Abandonado
(Quadras da autoria de Laurentino Piçarra)


Não tens culpa do desvario humano
Que não alimentou a tua felicidade 
E te largou dispensando a lealdade
Apenas a troco dum egoísmo insano. 

Sem abrigo, a chuva não te dá tréguas
Ao menos, as gotas não são pancadas,
Sim, aquelas que te deixavam pisadas 
E cuja dor ainda ressentias a léguas.

Procuras o carinho que nunca tiveste
Mas ninguém te quer deitar a mão 
Porque já és velho e não tens salvação!
Encosta-te antes a esse inútil cipreste.

Espera que a morte chegue depressa
Para aliviar o abominável sofrimento 
Que é só teu, e que a solidão confessa
Neste ignóbil fim vivido ao relento.





Poema nº 16 - Beleza Feminina


Beleza Feminina
(Poema da autoria de Laurentino Piçarra)


Mulher airosa
Fruto da Primavera Florescente
Colorida como uma rosa
Tornas a minha alma incandescente!

O teu cabelo escuro ondulado,
Esses olhos verdes penetrantes,
Sem esquecer os dois bustos circundantes
Que endeusam o teu corpo desejado!

Quanto te avisto com sortilégio,
Beijo o pavimento que pisas, 
Agradeço semelhante privilégio
Seguindo o esteticismo que profetizas!

A tua postura irredutível
Destrói milhões de corações
E gera intermináveis perdições,
Porque és simplesmente imperdível.

Esta obsessão de tanto acariciar
Os teus atributos reconfortantes
Irradiadores de luzes triunfantes
Que o homem jamais poderá depreciar!

Integras a mais atractiva paisagem,
Dotando o Mundo da tua singularidade,
Propagando a infinita felicidade
Em mim mesmo que te presta vassalagem!




Poema nº 15 - O Segredo de Pintor


O Segredo de Pintor 
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Queria pintar a tua compleição celestial:
O olhar despretensioso que imprimes,
Os castos e macios lábios de ar jovial
Que integram o portal dos êxitos sublimes.

Não possuo a chave para conhecer o interior,
Tampouco disponho do mapa do tesouro!
Logo desvanece em mim a ilusão superior,
Mas ainda te espreito da janela do meu abrigadouro.

Aguardo por ti nas solitárias noites de nevoeiro
Grito pelo teu nome, quando acordo dum pesadelo,
Contudo, a tela permanece vazia e sem zelo.

O meu pincel revela-se frouxo e não é digno
De engrandecer a tua apaixonante fisionomia!
Apenas me resta a inspiração da fonte da melancolia.




Pintura Artística da autoria de Vicente Romero

Poema nº 14 - Rochas Mudas


Rochas Mudas...
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Elegantes são as rochas costeiras
Resistem às arremetidas do mar
Nem precisam de sair do seu lar 
Para enfrentar as vis rasteiras.

O areal circundante depressivo
Perdeu gradualmente direitos:
As ondas do poder obsessivo
Humilharam os grãos em pleitos.

Mas as pedras não choraram,
Mantinham-se sólidas e firmes
Na posição que sempre ocuparam!

Todavia, seriam as próximas a sofrer,
O mar revolto avançava sem piedade
E a sua indiferença as faria desaparecer!





Poema nº 13 - A essência da Desculpa



A essência da Desculpa
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)

Três sílabas que marcam a diferença
Entre a arrogância e a humildade
Entre a ignorância e a renascença
E que unidas cantam pela benignidade. 

Uma palavra poderosa que evita guerras
Que supera os erros e a escuridão
Aniquilando com notável vigor as trevas
E abre o caminho luzidio para a perfeição.

Reconhecer as limitações individuais
Não é sinónimo de interior humilhação 
Mas sim de suprema consciencialização!

Só assim o homem livremente voará
Como um gavião de asas conquistadoras
Que no céu desenhará a glória de amanhã!




Imagem retirada de: http://www.memeaddicts.com/

Poema nº 12 - Bola Desvirtuada



Bola Desvirtuada
(Quadras da minha autoria)


Como correm loucos atrás dela,
É a venerada deusa do desporto 
Aquela que incessante gira na ruela
E que aos pobres traz alegria e reconforto!

Que júbilo! Gritam as torcidas amadoras
Os heróis circulam a bola com diversão
O piso é térreo e a chuva gera crispação
Mas aí sobressaem as virtudes purificadoras!

Não há dinheiro, tudo é motivado pelo lazer:
Amigos que fogem às banais rotinas diárias
Outros que constroem amizades no vencer,
Aqui não se vendem carreiras mercenárias!

Mas revoltado exclamo - violaram a pureza do futebol!
Quantos milhões se investiram em clubes e atletas?!
Maldito dinheiro que até subornastes a musa oval
E lhe subtraíste a eternidade, reconfigurando-a mortal!

A exemplar compaixão remeteu-se ao declínio:
Aquela criança africana que antes jogava à bola
Conheceu um trágico fim para o seu fascínio:
Pisou uma granada no campo que vidas desola!

O Pobre miúdo martirizado não foi notícia,
Enquanto os jogadores de milhões o são
Ou porque marcam muitos golos ou não
Na sua realidade que é afinal fictícia!

O futebol deveria contrair matrimónio com a poesia,
Cada golo equivaleria a uma rima popular:
Uma oferta humilde à deusa do romancear
Que suplica ao Sol que lhe sare a actual miopia! 





Poema nº 11 - Os Segredos da Joaninha


Os segredos da Joaninha
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Petrarca criou o soneto para o amor,
Miranda o introduziu em Portugal,
E tu minha joaninha da Primavera
Voas colorida pelo profundo olival.

Que me dera ser uma folha do jardim
Digna de te fornecer o alimento interior
Logo que ousasses aterrar em mim
Diante do sol que entoa hinos de louvor!

Tinges o vento em tons de vermelho:
A cor do amor está representada em ti
E até a desamparada lua pede o teu conselho.

Voa, voa, voa pelos céus feliz joaninha 
Adeja sobre os longos rios do erotismo 
E recria o teu novo império, vistosa rainha!





Poema nº 10 - O Professor Rufino, o defensor nato do Novo Acordo



O Professor Rufino, o defensor nato do Novo Acordo
(Quadras da autoria de Laurentino Piçarra)


Olá meninos, fizeram o trabalho de casa?
-Sim, professor Rufino. Mas temos dúvidas!
Aqui estou para fazer das questões solvidas
Nesta hora que muito me aborrece e atrasa!

- Professor, arquite(c)to escreve-se com "c"?
Sem "c" de certificado ou conhecimento 
- Mas sempre redigiu a palavra assim?
Não, outrora copiava mal pelo Serafim!

- Rufino, e Egipto é com ou sem "p"?
Sem "p" de perfeição ou de planeado
- Mas o Eça de Queirós escreveu Egipto?
O Eça era um ignorante desa(c)tualizado!

Mas não escrevam isso nas provas nacionais,
Porque há muitos inimigos da mudança
- Professor, porque não fazer antes um referendo?
Porque o povo é muito nabo e vive do diferendo!

- Mas não temos nós uma notável democracia?
Sim, mas nas letras gozamos de hegemonia!
- E como lhe correram as provas oficiais de acesso?
Cometi vários erros, mas superei com sucesso!

Mas foram gralhas que não se inserem no acordo
Porque o decorei assim logo que me obrigaram
E a obediência sempre foi um valor que ensinaram
Neste país que agora navega nas letras a bom bordo!

- Professor, qual é a sua palavra preferida da reforma?
É a(c)to porque agora é uma palavra polivalente
Ora serve para uma a(c)ção ora para atar os sapatos,
Que bela invenção deste sector educativo eminente!

- E onde vai passar as férias da Páscoa, dr. Rufino?
Eu vou para o Rio de Janeiro porque adoro sambar
E enquanto lá estiver divulgarei o meu raciocinar
Porque Portugal para mim é um pais pequenino!

- Professor, vá para lá, e usufrua de boas férias!
Sim, eu só tenho medo de ser alvo dum arrastão!
- Não faz mal, ninguém lhe quererá roubar o acordo:
- Que à sociedade milenar lusitana só causou confusão!



Nota adicional - De modo a distinguir as falas, uso apenas os hífenes do diálogo para as crianças. As falas do professor não levam hífen prévio.

Poema nº 9 - Duche Ardente


Duche Ardente
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Mimoseava-te como um peluche
Naquele dia florido de anarquia
Onde cultuava no matinal duche
O teu perfumado corpo de baronia.

Beijava as paredes do templo carnal
Enquanto o chuveiro não oprimia o fogo
Que propalava numa pauta imemorial
Cujas notas suaves, eu maestro, te rogo!

A água caía sem silenciar os gemidos
Que mistificavam rugidos de emoção
Em segundos de interminável duração.

Os vidros embaciavam-se de suspiros
De desenhos vibrantes e afrodisíacos 
Como estrelas virgens de afáveis delírios




Imagem retirada de: http://amorevolupia.blogspot.pt/

Poema nº 8 - A Patagónia e o seu Avatar


A Patagónia e o seu Avatar 
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Nu e embaraçado estava o ébrio céu
A terra seca despida de sedução,
A água condenada à dissolução,
E o vento sem descortinar teu véu! 

Tudo perdia essência no teu redor:
Musa chilena das quatro galáxias
Que levitavas luzente pela Patagónia 
Ministrando o teu instinto domador!

A galhardia herdaste dos mapuches:
Ngenechén orgulhoso da sua obra
Protegeu-te de homem e sogra!

Ele só te quer para ti na outra vida;
E eu sóbrio pastor montado num lama
Observo Vénus que lamenta o meu drama!




Foto magnífica da autoria de Joel Santos

Poema nº 7 - Viriato, o Fundador da Homérica Dinastia


Viriato, o fundador da homérica dinastia
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Escudado e com lança na mão,
Lá subia às tenebrosas montanhas,
O homem que inspiraria uma nação
Para as suas vindouras façanhas. 

Ele derrotou obstáculos superiores,
Engrandeceu a modesta Lusitânia 
Cuja identidade causou dissabores
Àqueles que a ansiavam trucidar!

Ao longe o mar reavivava esse apogeu:
As ondas aludiam às investidas de Viriato,
O guerreiro que agora mora vitorioso no céu!

Ah alma lusitana lutadora e resplandecente!!!
Não há gigante exterior que medo te ofereça,
Apenas traída pelos "teus", é a tua sentença!





Poema nº 6 - A Imortalidade dos Gladiadores da Cultura



A imortalidade dos gladiadores da cultura
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Quando um renomeado artista parte,
Muitos recordam o génio que se perdeu,
Sim, aquele que numa cama humilde pereceu,
E que no seu manto terá o olímpico estandarte.

Como cai incessantemente a chuva no caixão!
Trajados de preto, todos choramos a ausência
Daquele que, na vida, pela cultura fez penitência
E que cativou até o nosso pequeno coração!

Mas com a precipitação veio também o arco-íris,
Com aquelas cores vincadas e inesquecíveis 
Que amanhã nos fazem acreditar num novo dia.

O corpo frio abalou, mas o seu legado venceu:
Reavivado será o pensamento do gladiador,
O qual circula ainda pelas galerias do coliseu.





Poema nº 5 - A Ilusão Terrena Angustiante



A Ilusão Terrena Angustiante
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Pelas margens do pensamento,
Carregava o fardo da incerteza:
As ideias rasgava-as o vento,
E eu remetido era à tristeza!

Não via sol, apenas o nevoeiro!
Não via pessoas, apenas sombras!
Sentia-me só no cume das lombras: 
Perdido no delírio, sem dotes de relojoeiro!

As folhas conspiravam neste vazio
Sedentárias, suportavam as rajadas
E juntas troçavam de mim diante do rio.

A ponte anciã detectou a ilusão veiculada,
E não me consentiu a solene passagem,
Porque no fundo eu era apenas paisagem!






Nota - A palavra "lombras" é utilizada neste poema no sentido figurado dum relaxamento extremo ou profundo. Veja-se: http://www.dicionarioinformal.com.br/lombras/.

Poema nº 4 - Saudade Floreal



Saudade Floreal
(Soneto da minha autoria)


Perdi a visão quando desapareceste,
O meu amanhecer tornou-se sombrio
E agora derramo lágrimas de Saladino
Porque nunca mais me escreveste.

Não cheguei a confidenciar ao prado
A paixão que nutria pela mais bela flor:
Aquela que propalava um afrodisíaco odor
E que foragida me deixou neste estado!

Estou cego de amor na mais ínfima serra,
Onde tresandam ignóbeis lobos e raposas 
Naquele vácuo apavorante que se encerra.

Continuo a andar, mas nada me faz parar,
Os sentimentos são de medo e ansiedade,
Mas caminharei eu para a caducidade?





Poema nº 3 - O Hospital da Despedida



O Hospital da Despedida 
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Que dores agoniantes no abdómen!
Aqui estou eu no corredor sombrio,
Nesta cama móvel que é um dólmen 
Que me dedica um olhar triste e vazio.

A meu lado, pacientes que choram,
Traídos pela única certeza do destino!
Heróis que uma vida inteira trabalharam,
Mas agora sós à espera do fúnebre sino!

Chamam pelo seu médico, mas em vão:
Está a aplicar uma injecção de austeridade 
Porque a contabilidade supera o corpo são!

Outros doutores não têm mãos a medir,
O velório do pobre começa ainda em vida,
E para quem sempre lutou, só adianta carpir!




Imagem retirada de: http://geracaox.livreforum.com/

Poema nº 2 - O Mar Mítico da Aguda


O mar mítico da Aguda 
(Quadras da autoria de Laurentino Piçarra)


Acerco-me do farol ousado e inexpugnável,
Aquele que não se deixa derrubar pelas ondas,
Que não se corrompe pela energia insondável 
Dos monstros marinhos das marés tontas. 

O saboroso peixe nivela o mérito da aldeia,
O pescador é o guardião das tradições locais,
A peixeira difunde a arte por cada futura ceia:
E à mesa, enaltecem-se as raízes ancestrais. 

Aguda tem ninfas de fisionomia indescritível,
Ocultam-se por entre as algas dos rochedos 
Alimentam-se daquele mexilhão inolvidável, 
E à noite, os búzios revelam seus segredos.

Queria mergulhar naquelas águas profundas,
Descortinar o seu aglomerado submerso
Que abriga inúmeras memórias fecundas
E depois, numa tábua, narrar tudo em verso!




Fotografia da autoria de Soto120773 no Flickr 

Poema nº 1 - O Paladar dos Beijos



O Paladar dos Beijos
(Soneto da autoria de Laurentino Piçarra)


Li os teus doces lábios
Soprei vitaminas de paixão
Para o teu corpo são
Que inspira escritores e sábios.

Respondes aos prazeres carnais
E com a língua rejubilante
Transmites uma sensação vibrante
Portadora de calorias sensuais.

És a metáfora do bom beijo,
Herdaste a astúcia do amor,
Eu cá perdidamente te desejo.

Vénus, teria inveja da tua simpatia,
Afrodite sentiria a mais feroz concorrência
De ti, minha adorada e cobiçada flor.