Jeremias e o Moliceiro da Murtosa
(Quadras Longas da minha autoria)
Na ria de Aveiro, velejava um tripulante no seu velho moliceiro:
Jeremias, homem recatado, prezava demais o seu trabalho,
Exibia, sem vexame, os seus trapos e linguagem de vareiro,
Mesmo quando a sociedade o via como mero espantalho!
A sua embarcação inscrevia-se em madeira de pinheiro
Revestida depois de múltiplas e adornadas cores
Que enfeitiçavam os turistas com um desejo derradeiro:
Percorrer aquelas margens inspiradoras de poetas e pintores!
Mas Jeremias recolhia igualmente o afamado moliço
Usado para adubar a sua modesta propriedade agrícola,
Labor que conhecia desde os seus tempos de noviço!
Executava ainda o ofício de pescador com devoção
Extraindo sáveis e lampreias das águas esverdeadas
Que alimentariam, nas típicas mesas caseiras, cada corpo são!
Ah! Murtosa - empolgante terra das insignes conservas,
Onde mar e ria se aliam para ceder o melhor do nosso peixinho
Cobiçado à distância pelas aves que sentem o profundo cheirinho!
Elsa, irrepreensível mulher de Jeremias, dotada na cozinha tradicional,
Preparava, com rigor, saborosas e irrecusáveis caldeiradas de enguias
Que atraíam ao seu azulejado casario uma infinidade de companhias.
Ó sortudo Jeremias, vives num concelho rural que idealiza harmonia,
Acampado ainda pelos inúmeros escuteiros que o glorificam,
Abraçando Baden-Powell na defesa do ambiente em sintonia!
O que seria de Portugal sem a deslumbrante vila da Murtosa!?
Na qual labuta Jeremias que dispensa qualquer protagonismo,
Assimilando a complexa identidade de toda aquela paisagem airosa.
Quadro da autoria de Luísa Fonseca
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