Bola Desvirtuada
(Quadras da minha autoria)
Como correm loucos atrás dela,
É a venerada deusa do desporto
Aquela que incessante gira na ruela
E que aos pobres traz alegria e reconforto!
Que júbilo! Gritam as torcidas amadoras
Os heróis circulam a bola com diversão
O piso é térreo e a chuva gera crispação
Mas aí sobressaem as virtudes purificadoras!
Não há dinheiro, tudo é motivado pelo lazer:
Amigos que fogem às banais rotinas diárias
Outros que constroem amizades no vencer,
Aqui não se vendem carreiras mercenárias!
Mas revoltado exclamo - violaram a pureza do futebol!
Quantos milhões se investiram em clubes e atletas?!
Maldito dinheiro que até subornastes a musa oval
E lhe subtraíste a eternidade, reconfigurando-a mortal!
A exemplar compaixão remeteu-se ao declínio:
Aquela criança africana que antes jogava à bola
Conheceu um trágico fim para o seu fascínio:
Pisou uma granada no campo que vidas desola!
O Pobre miúdo martirizado não foi notícia,
Enquanto os jogadores de milhões o são
Ou porque marcam muitos golos ou não
Na sua realidade que é afinal fictícia!
O futebol deveria contrair matrimónio com a poesia,
Cada golo equivaleria a uma rima popular:
Uma oferta humilde à deusa do romancear
Que suplica ao Sol que lhe sare a actual miopia!
Fotografia retirada de: https://www.icrc.org/por/resources/documents/interview/weapon-contamination-interview-190710.htm, (autor - Christopher Morris).
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