Em Comunhão com a Natureza Mítica
(Poema da autoria de Laurentino Piçarra)
Como adorava viver junto a um riacho
Onde veados e raposas matavam a sede!
No interior da casa, me acostava à parede,
E atraído, depois saía recalcando o capacho!
Queria ter asas e voar como uma borboleta,
Ascender às montanhas dos lobos uivantes
Cheirar, pelo caminho, cada formosa violeta
E coadjuvar na dança as gaivotas rutilantes.
Subiria às pontes de madeira que existissem
E que outrora acolheram Deusas levitantes
Que trovavam quadras amorosas hipnotizantes,
Acompanhadas pelos rouxinóis apaixonantes.
Mas tive de me contentar, remando uma canoa!
Por entre as margens rochosas e pantanosas
Procurava anões laboriosos e fadas bondosas,
Fantasiando a visão que a minha alma escoa.
Aportei num sítio repleto de potes de ouro,
Mas a névoa toldava-me a real percepção
E quando desembarquei no ancoradouro,
Fui assaltado pelos duendes da perdição!
Deixaram-me só de cuecas e desnorteado,
E fugiram com o ouro - o isco da sua cilada,
E eu, qual robalo ingénuo, fiquei angustiado
Porque cá me tinha metido numa trapalhada!
Ninguém ouvia os meus desabafos lacónicos,
O frio do entardecer atormentava o corpo!
Tinha perdido noção dos pensamentos metódicos
E não sabia como regressar deste rumo torto!
Chorei e lacrimejei até à extrema exaustão!
Mas ao beber a água duma fonte abandonada
Apareceu-me Abnoba, Deusa da Floresta Negra
Que me curou a mágoa e guiou até à salvação.
Ó como tu conquistaste o coração da Natureza
Garças, flamingos e linces seguiam-te lealmente!
A elegância notável que evidenciavas prontamente
Fazia-me ajoelhar perante a tua singular beleza!
Graças a ti - Abnoba, retornei ao doce lar para repousar
Acendi a lareira, e aqueci a minha pele torturada
Lavrei um manuscrito a registar esta aventura floreada
E depois adormeci rumo ao universo do subconsciente!
Quadro da autoria de Thomas Kinkade
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