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Nesta página electrónica, encontrará poemas e textos de prosa (embora estes últimos em minoria) que visarão várias temáticas: o amor, a natureza, personalidades históricas, o estado social e político do país, a nostalgia, a tristeza, a ilusão, o bom humor...

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Poema nº 61 - Peregrinação Sinuosa


Peregrinação Sinuosa
(Vilancete da autoria de Laurentino Piçarra)


(Mote)

Ai se eu pudesse voltar atrás
Jamais entraria na universidade,
Canudo, inimigo da empregabilidade!

(8 Voltas)

Preferia ser o maior ignorante 
Ou até nem jogar com o baralho,
Desde que tivesse um trabalho
Em vez desta solidão frustrante
Que traz consigo a dor triunfante
Nesta renúncia vã à intelectualidade
Canudo, inimigo da empregabilidade!

Ó Camões, preferia perder o olho
Numa contenda árdua e desigual 
Do que vender o meu ser individual
A um partido ainda mais zarolho!
O meu passado eu já não escolho
O futuro está repleto de adversidade,
Canudo, inimigo da empregabilidade!

Ó Fialho, que falta fazes à nação,
Para malhares naqueles vendidos
Que deixaram os jovens mendigos
Sem nunca terem pedido perdão!
Querias arranhá-los como um gatão
Nos teus artigos de verticalidade!
Canudo, inimigo da empregabilidade!

Ó Pessoa, o teu génio multifacetado
Guiou a juventude no patriotismo 
Em que o passado de brilhantismo
Contrasta com o presente alheado
Que enxuta qualquer diplomado 
Para o além-fronteiras da saudade!
Canudo, inimigo da empregabilidade!

Ó Bordalo, desenha-os no teu papel
Sim, aqueles políticos sem gabarito
Relega-os para a maldição do infinito
Nessa tua caricatura feita a pincel!
Aos jovens o amanhã já não é fiel,
Resta apenas gritar em conformidade 
Canudo, inimigo da empregabilidade!

Ó Vicente, coloca-os na tua barca
Sim aquela que leva para o suplício
Os que fazem do entulho desperdício
Esses que nos legaram vida parca,
E que seguem carreira de oligarca!
O desemprego é pai da sociedade
Canudo, inimigo da empregabilidade!

Ó Eça, como é exímio o teu monóculo!
Cortarás o bigode quando o país voltar
À épica glória do passado madrugar 
Em que a juventude possuía o rótulo 
De conduzir a nação em cada capítulo!
Agora tem de emigrar por penalidade,
Canudo, inimigo da empregabilidade!

O acordar já não tem o mesmo sorrir,
Todo o sonho jovem é virgem e fictício
A realidade tornou-se sofrimento vitalício
E a depressão se prontificou a emergir!
A escuridão circunda o juvenil existir 
Nesta saga repleta de artificialidade!
Canudo, inimigo da empregabilidade!







Notas-extra: 1 - A palavra "gatão" é adoptada no sentido dum gato de consideráveis dimensões. 
2- Durante os meus tempos de universidade, fui bastante feliz e aprendi bastante com os meus professores (sinto-me um felizardo por isso), aos quais expresso, desde já, a minha profunda gratidão. Guardo inúmeras recordações que foram indiscutivelmente positivas, contudo chegado ao fim do curso, deparei-me com a triste realidade do mercado de trabalho, em que o meu currículo repleto de formação superior só me prejudicava nas ofertas de emprego (sim, tive que ouvir a história do "ter habilitações a mais" ou de não possuir o "perfil pretendido" ou até de "não podemos pagar a um licenciado"). Este desabafo não é só meu, é igualmente o de muitos jovens que agradecem muito às suas universidades ou às escolas que frequentaram e lhes cederam formação essencial para a vida, mas que se encontram agora no desemprego ou na precariedade (a taxa de desemprego nos jovens é de 34%, e já nem estamos a falar dos empregos instáveis ou pagos à comissão/recibos verdes). Todos eles mereciam mais, independentemente de serem qualificados ou não. Este meu poema não é dirigido contra alguém em concreto, mas pretende ser antes um grito de revolta pela defesa da juventude. Faço-o pelos jovens de hoje, e também por aqueles do amanhã.

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