O sineiro do salubre despertar
(Quadras da autoria de Laurentino Piçarra)
Assomava-se o indescritível sol matinal:
Na horta, cacarejava um galo embevecido,
As flores reemergiam com tonalidade imortal
E o sono era pelo homem comum vencido.
Na aldeia, residia uma igreja à beira-mar,
Que ostentava, numa torre, um sino salutar
Instrumentalizado pelo pontual Celso,
Um ancião humilde mas de perfil excelso.
Eram 9 horas e lá estava o velhinho:
Tocava até à exaustão para o povo acordar
Não havia preguiçoso que conseguisse escapar
Às badaladas que iludiam o pleno descaminho.
Até as furiosas ondas do mar se arrepiaram;
Atordoados, saíram da cama os filhos do vinho
E inclusive os inúteis zombeteiros sem destino
Que nos mundanos prazeres se acomodaram.
Celso trajava-se com vestes foleiras,
Elaborava peças de barro por divertimento
Censurava as mais infames asneiras,
E auxiliava os sem-abrigo cedendo alimento.
Havia quem troçasse deste pobre idoso
Por não conviver com as influentes elites
Que erguiam a soberba em estalactites
E desprezavam o seu aspecto andrajoso.
Numa manhã, Celso não compareceu
Um anjo o visitara durante o intenso luar
Convidando-o a estrear o novo sino estrelar,
Enquanto a aldeia terrena, naquele dia, adormeceu!
Imagem retirada de: http://sanctidominici.blogspot.pt/2010/11/o-sino-do-angelus-simbolismo-e-efeitos.html
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